Os incomodados que se retirem

Ouso sugerir a retirada dos clubes brasileiros da Libertadores até que a Conmebol implemente protocolo para punir os casos de racismo

racismo dói na alma“. Palavras de um jovem atleta que carrega consigo “um defeito de cor” que se sobrepõe ao talento: é negro. Essa é a síntese do potencial devastador de um crime que nem sempre deixa provas materiais, mas sempre agride, violenta e fere a vítima por dentro.

Atacante do Palmeiras, Luighi Hanri levou cusparada e encarou imitação de macaco por parte da torcida do Cerro Porteño quando deixava o campo numa disputa de futebol pela Copa Conmebol Libertadores Sub-20, no Paraguai, na semana passada. Apesar da denúncia à arbitragem e da presença da polícia no local e hora do crime, nada concreto ocorreu até agora.

Coube à vítima elaborar a situação, controlar o ódio e, em meio a lágrimas, dar lição de moral e civilidade na imprensa esportiva e nos cartolas do futebol, fazendo as perguntas corretas a fazer em situações dessa natureza. “O que fizeram comigo foi um crime, não vai perguntar sobre isso? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? E a CBF? Até quando a gente vai passar por isso?”, indagou Luighi.

Jogadores de futebol pretos e pardos constantemente enfrentam ofensas raciais de torcedores —e até de colegas de profissão. A fama e o talento não blindaram craques como Pelé, Vinicius Jr., Cafu, Rivaldo, Roberto Carlos e Ronaldo, para citar alguns poucos nomes. Infelizmente, essa é uma história que se repete há mais de um século.

O primeiro caso documentado de racismo envolvendo jogador de futebol brasileiro data de 1914, numa partida em que torcedores do time inglês Exceter City insultaram Arthur Friedenreich, o primeiro negro a jogar futebol profissionalmente no país. O racismo também deixou o atleta fora do Campeonato Sul-Americano em 1921 após Epitácio Pessoa, presidente do Brasil, recomendar que “somente atletas brancos” representassem o país no exterior.

Em 2025, ouso sugerir a retirada dos clubes brasileiros da Copa Conmebol Libertadores até que a Confederação Sul-Americana de Futebol implemente um protocolo para punir os casos de racismo. Que tal?


Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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