Por: Fátima Oliveira
Deu o que falar a “A santa ardência da malagueta: comer pimenta é uma arte” (Opinião, 22.2). Desde indagações sobre o valor nutricional, medicinal e afrodisíaco das pimentas sobre diferenças medicinais entre pimenta-do-reino, malagueta e demais do gênero “capsicum”. Recomendo o livro “Pimenta e seus Benefícios à Saúde”, do homeopata e especialista em saúde pública Márcio Bontempo (Editora Aalúde), disponível na internet. Lê-lo fascina pela riqueza dos aprendizados, pois “Depois do sal, a pimenta é o ingrediente culinário ou tempero mais usado no mundo”.
São mais conhecidos dois gêneros de pimentas: o pipere e o “capsicum”. Das piperáceas, originárias do Oriente, a mais famosa é a pimenta-do-reino (Pi-per nigrum), cujo princípio ativo é a piperina; de acordo com a época da maturação, há pimenta-verde, pimenta-branca e pimenta-preta, cujo princípio ativo é a piperina.
Do gênero capsicum conhecemos cerca de 27 espécies, que têm como princípio ativo mais importante a capsaicina, que não se modifica com o calor, álcool, vinagre ou óleo. A malagueta Capsicum frutescens, apreciada nas versões malaguetinha, ou malagueta silvestre ou caipira, e híbrida – maior e mais robusta -, é a mais usada em conservas. Há capsaicina (0,005% a 0,1%) no pimentão Capsicum annuum, o vegetal com mais alto teor de vitamina C, do qual é feita a especiaria páprica (pimentão seco e moído).
As pimentas, além do valor nutritivo, são alimentos funcionais – contêm nutrientes e substâncias de ação protetora e terapêutica. São tidas também como alimentos termogênicos, isto é, que ajudam no metabolismo, queimando calorias com maior rapidez. A pimenta-do-reino apresenta propriedades medicinais semelhantes às “capsicum”. E foram usadas, pelo alegado poder antisséptico, nas fórmulas de embalsamamento das múmias no Egito. No Oriente, há milênios é usada como expectorante e vermífugo, além de remédio para indigestão crônica, febre, sinusite, alterações metabólicas, obesidade, dores musculares e cefaleias.
Há registros de que os incas, astecas, maias, tupis e guaranis usavam pimentas como alimento e remédio. A capsaicina é uma das substâncias objetos de inúmeras e promissoras pesquisas na última década; até para descobrir se atua em cânceres, tendo sido comprovada sua eficácia como analgésico, anti-hipertensivo, redutor de colesterol e anticoagulante, indicado na prevenção de infartos, trombose e acidente vascular cerebral (AVC).
No mercado, há capsaicina em creme e em pomada para artrites (as “antigas dores nas juntas”), sendo muito prescrita na medicina esportiva para tratar lesões, torções e nevralgias.
O uso das pimentas como afrodisíaco é antigo, remonta ao século XVI. Na Renascença, era interditada aos jovens, por ter fama de ser o tempero do amor, capaz de aguçar a sensualidade. Durante séculos, para evitar o desejo sexual, as pimentas em geral eram proibidas a monges, sacerdotes, discípulos e religiosos celibatários. Indianos e chineses alegam que a raridade dos casos de infertilidade masculina entre eles deve-se ao uso regular das pimentas.
Na Calábria (Itália), onde o hábito de comer pimenta “in natura” é a regra, os homens possuem taxas de espermatozoides bem superiores à média mundial. É de lá a receita da medicina tradicional que indica “a ingestão de uma a duas pimentas pequenas (tipo malagueta) por dia, às refeições, sem mastigar, como se fossem pílulas, para casos de esterilidade ou baixa contagem de espermatozoide”.
Fonte: O Tempo