por Leno F. Silva para o Portal Geledés
A violenta ação da polícia militar de São Paulo contra usuários de crack da região central da cidade foi, na semana passada, tema dos principais veículos de comunicação. Há anos sabia-se que a área era frequentada por dependentes químicos, que consumiam e adquiriam a droga a céu aberto.
Desconheço o tema em profundidade, mas todos sabem que os efeitos do crack são gravíssimos para a saúde. Por ser uma droga menos pura do que a cocaína e mais barata, atrai usuários com menor poder aquisitivo e, a grande maioria, oriundos de classes sociais com escassos recursos, que quase não têm perspectivas para as suas vidas e se entregam ao vício como a única alternativa para fugir dessa dura realidade.
Tudo bem, lá também circulam traficantes, os responsáveis por levar o produto no momento exato, para que fosse consumido imediatamente, sem perda de tempo. Ali virou um ponto de encontro dessa gente diferenciada com perfis e hábitos semelhantes, que passavam dias, semanas, meses e anos, repetindo a mesma rotina de conhecimento público.
Com a ação policial cinematográfica, muitos desses personagens vieram à tona. Tiveram que sair dos seus buracos e quando descobertos, nos deparamos com pessoas não muito diferentes das que encontramos pelas ruas, com sonhos, desejos, dúvidas, desilusões, críticas e, muitas, incapazes de lutar sozinhas contra o vício.
Não por acaso várias das usuárias que estamparam as páginas dos jornais e das revistas estão grávidas. Provavelmente os pais das crianças também são dependentes do crack, compartilharam as mesmas aflições e, talvez, apostaram que a criança gerada poderá ser uma chance para outro futuro.
A dependência química é um problema de saúde pública, de política de Estado e de visão de mundo. As drogas ilícitas, a pobreza e a violência, são consequências e subprodutos da sociedade de consumo, na qual tudo vira mercadoria. Para quem tem dinheiro e poder, cocaína, entregue em domicílio com serviço confidencial e especializado; para quem não tem grana, o crack, baratinho, disponível nas piores esquinas e sem garantia de procedência. Pesos, medidas e ações diferentes e proporcionais à capacidade de compra e do valor da vida de quem está em jogo. Por aqui, fico. Até a próxima.