Leno F Silva para o Portal Geledés
Os fumantes foram despejados e só podem praticar o vício nas ruas, ou melhor, nas calçadas, preferencialmente em pé, sem qualquer proteção às intempéries e como se tivessem de castigo ou pagando um pecado daqueles.
Independente da região, do perfil do fumante, da marca do cigarro ou do valor intangível do ar que será contaminado pela fumaça, a via pública é o único lugar que ampara os dependentes nos minutos em que o exercício das valiosas tragadas é fundamental. Nos segundos entre uma baforada e outra há pessoas que conseguem relaxar, esquecer os problemas, resolver um conflito ou, apenas, ter uma sensação de prazer.
Quem diria que os milhões de gastos em marketing e comunicação para vender os diversos atributos das marcas de cigarro acabariam assim, sem charme, com sua prática banida de qualquer espaço fechado, com estudos inquestionáveis que comprovam seus efeitos prejudiciais à saúde, e sendo proibidos de veicular as propagandas maravilhosas que instigavam os criativos das agências bacanas pelo desafio vender algo que sabia-se maléfico, mas que era legal, pagava impostos e trazia muita grana para muitos dos envolvidos na cadeia de valor dessa poderosa indústria.
Mesmo nesse cenário de restrições, novos adeptos são capitalizados diariamente. Afinal, trata-se de negócio lucrativo. O cigarro foi banido dos lugares fechados, mas não da sociedade. Sabe-se que o vício poderá provocar a doença e a morte de alguns. Mas a lógica dessa indústria deve ser a seguinte: se todos morrerão um dia, porque não oferecer esse “prazer” para quem quiser? Trata-se do democrático exercício do livro arbítrio.
Não fumo. Tenho poucos amigos que não conseguiram se libertar do vício e alguns que, mesmo sabendo dos riscos, gostam de praticá-lo. Dizem que ele proporciona uma satisfação inexplicável. Então, quem sou eu para dizer o contrário.
Por outro lado, já que o avanço da ciência é cada dia mais acelerado, porque não se criar um cigarro sem nicotina, que seja produzido com uma substância que imite o tabaco, mas sem provocar câncer? Se já inventaram uma cerveja sem álcool, talvez o mesmo possa ocorrer com o fumo.
Enquanto isso não ocorre, bem que os fabricantes de cigarros poderiam investir na criação de espaços mais dignos para os abnegados do vício que ganham cada vez mais o rótulo de personas não gratas. Por aqui, fico. Até a próxima.