Ovodoação: Por que algumas mulheres recorrerem ao procedimento

A ovodoação consiste em fertilizar óvulos de mulheres com idade igual ou inferior a 35 anos e transferi-los para mulheres que apresentam falência ovariana.

Por Thais Domingues, do HuffPost Brasil

@BRIT

Dentre os possíveis fatores da infertilidade, a baixa quantidade e a qualidade dos óvulos podem ser determinantes diante da dificuldade da concepção natural e, assim, levarem um casal a adiar os planos de uma gestação. A capacidade reprodutiva da mulher vai diminuindo progressivamente com o avanço da idade, mas não é a única causa da infertilidade. Algumas mulheres mais jovens têm a reserva diminuída por falência ovariana prematura, endometriose e tratamentos oncológicos.

Para estes e outros casos, a ovodoação desponta como uma das alternativas para a mulher que sonha com uma gravidez. O procedimento é mais comumente realizado pelas mulheres que postergaram a maternidade para depois dos 40 anos, pois é nessa faixa etária que mais de 40% delas precisam e buscam tratamentos de reprodução assistida para conseguir engravidar.

ovodoação consiste em fertilizar óvulos de mulheres com idade igual ou inferior a 35 anos e transferi-los para mulheres que apresentam falência ovariana, ou seja, que não estão mais produzindo óvulos. Ou ainda para mulheres com idade avançada, que tiveram diminuição do seu potencial de fertilização. Isso porque o importante para as taxas de sucesso é a idade do óvulo, não necessariamente a do útero a recebê-lo.

Atualmente, no Brasil, o procedimento deve ser por meio de doação anônima, respeitando as exigências do Conselho Federal de Medicina (CFM), que também proíbe a comercialização de óvulos. Dessa forma, sigilo e anonimato são fundamentais nos tratamentos que envolvem a doação de gametas.

A doadora deve ter no máximo 35 anos de idade, boa saúde, reserva ovariana adequada e sem fator aparente de infertilidade. Assim, a chance condizente com esse óvulo é “repassada” para a receptora. A busca por doadoras é realizada de acordo com as semelhanças físicas entre doadora e receptora, além da compatibilidade do grupo sanguíneo de ambas. No Grupo Huntington Medicina Reprodutiva, essa espera pode levar em torno de três a seis meses, dependendo das características do casal receptor. Além disso, respeitando as regras de anonimato, o casal terá acesso a informações físicas e de saúde da doadora e de seus familiares próximos.

No momento da coleta de óvulos da doadora, esses óvulos poderão ser fertilizados com o sêmen do casal receptor ou congelado para uso em momento oportuno. Uma vez iniciado o tratamento, a paciente receptora dos óvulos começa o preparo do útero com hormônios, geralmente ao longo de 14 a 20 dias, para deixar o endométrio receptivo aos embriões.

Em novembro de 2017, uma nova resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) reafirma que o número máximo de embriões a ser transferido será quatro. Entretanto, como no processo de ovodoação os óvulos utilizados são provenientes de pacientes com menos de 35 anos, a transferência será limitada ao máximo de dois. Por isso, caso haja embriões excedentes no processo de fertilização in vitro, o casal pode optar pelo congelamento (criopreservação) para uma oportunidade futura de gestação.

A maioria dos casais que precisa recorrer ao processo de doação de óvulos passa por um período de reflexão e aceitação da ideia de conceber um filho com material genético de outra pessoa. Nestes casos, a decisão deve ser de comum acordo entre o casal, registrada por meio de um contrato e termo de consentimento de ambos. Por isso, sempre após a aceitação do casal ao tratamento, é aconselhada uma consulta psicológica para abordar os aspectos emocionais envolvidos no processo.

Diante de um maior conhecimento sobre o processo de ovodoação, o que cabe a nós mulheres é sempre nos propor a reflexão se estaríamos dispostas a doar e receber um óvulo de outra mulher se tivéssemos oportunidade. No papel de doadora, podemos proporcionar para outras mulheres em um ato de solidariedade a oportunidade de uma gestação. No perfil de receptora, a partir do momento em que corpo e mente estão preparados, não há por que não seguir em direção ao sonho tão desejado.

Dra. Thais Domingues, médica especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva

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