Que Olorum acolha este nosso irmão que tanto ajudou a enegrecer nossas consciências
cristãs. Fui aluno de padre Toninho nas disciplinas de Moral I e II, seu orientando no
curso de Teologia no Instituto Teológico São Paulo (ITESP), no Ipiranga, em São
Paulo, entre 95 e 98, e amigo de Pastoral Afro, quando ele ainda estava na Aquiropita,
no bairro do Bexiga.
Ele nos ajudou e muito… Só hoje, em meio a tantas mudanças por que passa a igreja,
percebemos o quanto sua ação foi de ponta, profética, zumbílica. Quando na década
de 90, no seminário, lia ou ouvia suas reflexões sobre a Vida Religiosa e Consagrada
Negra e Indígena na Igreja Católica eu me descobria negro, afro-brasileiro, herdeiro de
Zumbi, Anastácia, Luiz Mahim, João Cândido, Moisés, seguidor de um Jesus Cristo
Negro, na perspectiva de Puebla. Quantos grupos de base pelo país afora se reuniram
ao redor da Bíblia, do atabaque e da busca de construção de “novos céus e nova
terra”.
De tudo que aprendi de pe. Toninho, e levarei sempre, fica principalmente a leveza e a
ternura no trato das questões étnico-raciais, sem perder a segurança de denunciar o
racismo onde não se espera encontrá-lo, mas também a fé no Quilombo Páscoa
Ressurreição do Reino da Igualdade, na irmandade quilombola daqueles e daquelas
que sonham, lutam, celebram e dançam na utopia de um mundo mais justo e igualitário.
Pe. Toninho fez a sua parte, reinventou os quilombos nas CEB’s (Comunidades
Eclesiais de Base), alicerçou uma Teologia Negra Latino-Americana, enegreceu a
própria Teologia da Libertação, inculturou Missas e Celebrações tornando-as genuinamente Afro-Brasileiras; padre Toninho nos legou um serviço sacerdotal
enegrecido na beleza das cores, das comidas, das danças, da inculturação da liturgia,
da promoção da justiça e da igualdade. Ao redor da mesa ou da toalha, ele nos ensinou
a reunir as diferenças religiosas, a firmar e celebrar o compromisso da fé cristã com o
diálogo com as outras religiões, especialmente, as religiões de matrizes africanas, numa
perspectiva macro-ecumênica.
A nossa Negritude deve-se muito à sua consagração à causa do povo negro!
E também a tantas outras consagrações… Ele nos ajudou a viver de uma forma mais
autêntica, inculturada e contextualizada o nosso próprio Batismo, nossa maior
consagração na construção do Reino!
Padre Toninho agora fará mais linda a festa no Orum, reunindo-se numa grande roda
de alegria com todas as pessoas que, neste mundo, fizeram de sua vida ponte, corrente
de amor, laços de união e vida, no respeito e na valorização das diferenças!!!
Padre Toninho! Axé, paz na vida!