Para derrubar o racismo é indispensável que o homem negro e a mulher negra tenham essa conversa.

Conhecido internacionalmente pela luta contra o racismo, pelo panafricanismo e por ter escrito a biografia autorizada do cantor, saxofonista e ativista nigeriano Fela Kuti:”Fela, Esta vida Puta”, Carlos Moore, é cubano, escritor, pesquisador e cientista social dedicado ao registro da história e da cultura negra, e nos fala:

Por Arísia Barros no Cada Minuto 

“Há uma situação de profunda solidão da mulher negra. A mulher negra é rejeitada universalmente, é pisoteada. Para ser um negro consciente, um ser humano consciente, um homem negro tem que olhar para esse aspecto. Não pode seguir como cúmplice desse esmagamento histórico da mulher negra. A mulher negra é o ser humano mais esmagado de todas as categorias de pessoas marginalizadas no mundo. E não se pode ignorar isso. É por isso que Obama fez algo extraordinário, ao levar essa mulher negra, de pele negra, à Casa Branca, como sua esposa, como mãe das suas filhas, quando, na realidade, a sociedade não programou isso. A sociedade programou para que alguém desse nível, desse sucesso, levasse automaticamente uma loira para a Casa Branca. Ele rompe um tabu e se transforma não somente no primeiro presidente negro, mas também no homem negro que devolve à mulher negra o sentido de autoestima e de respeito que essa mulher deve ter, em primeiro lugar. O sistema racista já inviabilizou a relação entre o homem negro e a mulher negra desde os tempos da escravidão. O racismo já determinou que brancas são para casar, mulatas para fornicar e pretas para trabalhar. Há quatro séculos que isso é lei. Então, quando um homem negro, como eu, compreende o que tudo isso quer dizer, ele começa a ter outro olhar para a mulher negra. Começa a buscar o diálogo com essa mulher, em lugar de pisoteá-la, em lugar de reproduzir toda a história de esmagamento. É um diálogo muito difícil, porque, durante quatro séculos, o homem negro e a mulher negra não tiveram uma situação que permitisse esse diálogo. Para derrubar o racismo é indispensável que o homem negro e a mulher negra tenham essa conversa.”

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