Participantes de audiência apontam o Brasil como o 5º país mais violento para as mulheres

Os dados do Mapa da Violência 2015, elaborado por iniciativa da ONU Mulheres, mostram que 13 mulheres foram mortas por dia, no Brasil, em 2014. Entre 83 países, o Brasil ocupa a incomoda posição de 5º lugar entre os mais violentos contra a mulher. As informações foram apresentadas durante o debate promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quarta-feira (25), para lembrar o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher.

Do Senado 

Durante a audiência pública, que contou com a participação de mulheres ligadas ao movimento sindical, o presidente da comissão, senador Paulo Paim (PT-RS), ressaltou que o quadro atual ainda é grave, apesar de todos os instrumentos legais colocados à disposição da Justiça para coibir agressões contra as mulheres, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio.

Os dados levantados pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, responsável pela elaboração do Mapa da Violência 2015, também  revelam o aumento da violência contra as mulheres negras no Brasil. Em dez anos, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54%, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013, enquanto que no mesmo período os homicídios de “não-negras” — segundo afirmou Paulo Paim — caiu 9,8%.

As mulheres que lideram a luta contra a violência, com o apoio de entidades sindicais, anunciaram o início do “ativismo pelo fim da violência”. O dia 25 de novembro é o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher. A campanha só será encerrada no dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nesse período, serão realizadas diversas atividades, como panfletagem, atos de rua e reuniões nos sindicatos.

Juventude machista

A professora Ailma Maria de Oliveira, secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), afirmou que o ativismo contra todas as formas de violência envolvendo as mulheres vai se espalhar por todas as cidades brasileiras.

Ela ressaltou que é preciso denunciar todas as formas de violência todos os dias. Ailma Oliveira manifestou sua preocupação com o a mentalidade da juventude:

— Nós precisamos refletir por que nossa juventude tem se tornado machista e conservadora. Os jovens se declaram machista e condenam as mulheres, que por terem ‘atitudes indecentes’ incentivam os casos do estupro e até a morte — lamentou.

Em sua opinião, “a impunidade amplia a violência. O Judiciário ainda interpreta de forma machista e, em várias ocasiões, aponta a vítima como culpada pela agressão. Esse comportamento dos nossos juízes intimida a mulher, que se sente insegura na hora de denunciar o agressor e lamentavelmente morre calada”, concluiu a professora.

O senador Paulo Paim complementou com a lembrança de que os algozes, na maioria dos casos, são os maridos, namorados e parceiros. Pessoas em quem as mulheres deveriam confiar, mas que acabam se tornando seus  carrascos.

Líderes sindicais presentes à audiência pública na CDH denunciaram várias formas de violência sofridas pela mulher no local de trabalho, inclusive no serviço público. Erilza Galvão dos Santos, secretária de Gênero, Raça, Etnias e contra Opressões da Confederação Nacional dos Servidores (Condsef), criticou a forma como o setor trata as mulheres, em particular as mulheres negras.

— Falar de violência contra a mulher no serviço público é falar de uma administração pública cujas formas de gestão estão longe, muito longe, de uma gestão democrática, que valorize o trabalho decente, que combata práticas e atitudes num processo de trabalho que afeta a saúde da mulher trabalhadora — alertou.

Ainda de acordo com Erilza dos Santos, “as políticas de recursos humanos, como avaliação de desempenho, com a criação das tais carreiras típicas, de classificação de servidores de 1ª, 2ª, 3ª e Z categoria e políticas salariais baseadas em gratificações são na realidade aspectos de uma competição dura, desleal, entre trabalhadores e organizações. Essas políticas reforçam o individualismo, o desprezo pelo trabalho em equipe, o desprezo pela tolerância, o desprezo pela solidariedade”.  Ela afirma que esse contexto acaba criando um ambiente favorável a violência sexista no local de trabalho.

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