PE: Tambores Silenciosos misturam religião, política e cultura

por RICARDO SANTOS

A Noite dos Tambores Silenciosos não podia ser em outro lugar do Carnaval de Recife que não o Pólo Afro, montado no Pátio do Terço, no bairro de São José. A tradicional festa religiosa reuniu, na noite desta segunda-feira, desfiles de várias nações de Maracatu que exaltaram a cultura e a beleza do povo negro. E à meia-noite, os tambores pararam e as luzes se apagaram para a cerimônia religiosa.

Além do toque das alfaias, das caixas e do chocalhar dos abês, as apresentações tiveram belas danças com trajes coloridos e muito trabalhados. Uma das coreografias mais belas da noite foi a do Maracatu Nação Sol Nascente, ligado ao Balé de Cultura Negra do Recife (Bacnaré). “Hoje a responsabilidade é grande, porque um dos homenageados é Ubiracy Ferreira, presidente do Sol Nascente e coreógrafo do Bacnaré”, afirmou Tiago Ferreira, mestre do Maracatu e filho de Ubiracy.

Além da música e da dança, outro viés da festa é o político. “Estamos dando a essas comunidades o direito de elas serem divulgadas e dizer que elas são comunidades dignas”, diz Ivaldo Marciano de França Lima, 37 anos, mestre do Maracatu Nação Cambinda Estrela e professor de História da África na Universidade do Estado da Bahia. “Pra nós favela é um termo positivo, e por isso dizemos que nós somos o Maracatu da luta e Maracatu das favelas.”

Desde 1935 no Alto de Santa Isabel, e desde 1996 no Chão de Estrelas, o Cambinda Estrela tem, segundo Ivaldo, “uma discussão interna que o leva a não se reivindicar de nenhuma comunidade”. “Enquanto plataforma política, o Cambinda Estrela defende que esse é o Maracatu do negro, do povo organizado das favelas”, disse ele. E plataforma política não é exagero: antes mesmo da apresentação, o próprio mestre distribuía panfletos em que criticavam a desocupação do quilombo do Rio dos Macacos, que estaria marcada para março deste ano. Além disso, durante o desfile, uma bandeira que pedia cotas raciais nas universidades públicas de Pernambuco era agitada. “Como dizia Fela Kuti, ‘A música é a arma’, e nós vamos usar a nossa”, disse Ivaldo.

Pouco antes da meia-noite, os tambores pararam e as luzes foram apagadas e somente uma vela permitia ver falando o babalorixá Tata Raminho de Oxóssi. Coroando a tradição religiosa do evento, ele entoou cantos e rezas, soltou pombas brancas e desejou paz a todas as pessoas.

 

Tambores Silenciosos – trecho 2011

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Fonte: Terra

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