Por Carolina Santos
Foram quase vinte anos de uma carreira mais ou menos presa ao nicho do rap paulistano. Mas bastou ter produção caprichada para o disco Nó na orelha, lançado no começo do ano passado, que Criolo virou hype. Perdeu o “doido” que acompanhava o seu nome e se transformou no “novo” artista mais elogiado por outros artistas – incluindo aí os medalhões da MPB Chico Buarque e Caetano Veloso. No show de encerramento do Rec Beat, a frente do palco contava com Pitty, cantando todas as letras, Cibelle dançando, mesmo com o pé machucado, e Paula Lavigne tirando fotos e filmando o show com o seu iPhone. Na crista da onda, Criolo teve uma multidão aos seus pés no encerramento da 17ª edição do Rec Beat.
As letras das músicas de Criolo falam incisivamente sobre problemas sociais, ambientais e culturais. O preconceito, as drogas – inclusive o álcool -, o racismo e a desigualdade são duramente criticados. Por várias vezes durante o show Criolo disse que seu sucesso atual era porque não subestimava seus ouvintes. “Faço música para a juventude inteligente” e “Nosso povo não é burro” foram frases que Criolo repetiu várias vezes durante o show de pouco mais de 1h. A plateia respondia gritando “Criolo, Criolo” – manifestação que ele tentou cortar – e “Pinheirinho!”, em referência à comunidade violentamente desocupada na Grande São Paulo, o que gerou vários protestos virtuais.
Mesmo averso a clichês, Criolo não ficou imune a eles. Gritou “tira o pé do chão” ao apresentar Bogotá. No palco, trocou a camisa preta da banda Devotos por uma regata com a bandeira de Pernambuco. Tentou cantar no meio da plateia, mas teve que se contentar com o fosso do palco, já que para descer até o público ele teria que dar a volta por fora dos camarins. Cantou um coco e em seguida disse: “Não tem nada de mentira. Meus pais são nordestinos”, como se precisasse se justificar.
Apesar do aparente receio em ser mal interpretado, o sucesso do disco de Criolo vem muito da boa mistura de ritmos. Sem preconceitos, ele vai do hip hop ao samba e ao brega setentista. No palco, a força do disco é intensificada pela interpretaçao poderosa de Criolo. Ele não para no palco – dança, pula, faz caras e bocas. E surpreende: é um ótimo cantor, além das fronteiras do rap.
Para homenagear o amigo Chico Buarque, improvisou um rap na melodia de Cálice. O refrão condenava o uso de drogas, usando a jutificativa da violência do tráfico. Em outra música, Vasilhame, falou sobre os males do álcool. O público mostrou sintonia com o hype: cantou boa parte das letras, dançou todas as músicas, levantou os braços quando Criolo pediu. De copo na mão e cigarrinho na boca.
Fonte: Pernambuco