Piauiense Esperança Garcia é reconhecida como a primeira Advogada do Brasil

Em 2017, a OAB-PI reconheceu Esperança Garcia como primeira advogada do Piauí. A voz de Esperança Garcia é um brado pela luta contra o racismo e pela igualdade de gênero, raça e classe no país

Esperança Garcia foi reconhecida como a Primeira Advogada do Brasil pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) durante Sessão Ordinária do ano realizada manhã desta sexta-feira (25). Segundo a OAB-PI, o Conselho aprovou também a construção do busto da advogada no átrio do prédio sede.

Esperança Garcia foi uma mulher negra escravizada no século XVIII, no município de Oeiras, no Centro Sul do Piauí. Ela nasceu na fazenda Algodões, propriedade que pertencia a padres jesuítas brasileiros, onde aprendeu a ler e escrever. Aos 16 anos, se casou e teve seu primeiro filho.

A conselheira federal Silvia Cerqueira lembra da trajetória para o reconhecimento de Esperança. (Foto: Reprodução/OAB/PI)

A Conselheira Federal da OAB-PI, Élida Fabrícia, destacou a importância desse momento. 

Ela foi uma mulher negra escravizada, submetida a diversas agruras advindas de sua condição vulnerável. Mas nada disso a deteve na busca de seus ideais. Essa luta começou há muitos anos no Piauí, quando em 2017 conseguimos o reconhecimento na Seccional. Agora, o reconhecimento vem da OAB Nacional, em uma verdadeira reparação histórica dos prejuízos que a Advocacia negra e feminina já sofreu”, disse.

Ainda conforme Élida Fabrícia, esse reconhecimento serve também de exemplo para advocacia brasileira. “Como mulher e Conselheira Federal, não consigo mensurar a emoção desse momento. Não contenho as lágrimas, afinal Esperança é exemplo, não somente para a Advocacia de todo o Brasil, mas também para todas as mulheres que saem de casa todos os dias em busca de suas realizações e conquistas. Ela nos inspira a estarmos sempre em processo de superação”, completa.

Símbolo de resistência, Esperança Garcia lutou pelo Direito e sua natureza jurídica foi vista logo cedo, quando, no dia 6 de setembro de 1770, escreveu uma petição ao então Governador da Capitania de São José do Piauí denunciando os maus-tratos que ela e sua família sofriam, tendo sido inclusive separada de seu marido e impedida de batizar os filhos. Essa carta foi considerada o primeiro Habeas Corpus feito por uma mulher. A carta foi encontrada em 1979 no arquivo público do Piauí. 

Primeira advogada do Piauí

Em 2017, a OAB-PI reconheceu Esperança Garcia como primeira advogada do Piauí. A voz de Esperança Garcia é um brado pela luta contra o racismo e pela igualdade de gênero, raça e classe no país.

O legado de Esperança também representa um combustível para alimentar a coragem e a resistência do povo brasieliro. Ela compõe memórias de lutas do povo negro e dá voz aos que foram historicamente calados.

+ sobre o tema

Você sofreu algum tipo de violência no parto?

Recentemente, as imagens da jovem presidiária, algemada pelo braço...

Coração suburbano também fere e se locupleta da estigmatização das negras

Sou fã de Elisa Lucinda. Fã mesmo, de verdade,...

O Feminismo no Brasil: Um papo com Djamila Ribeiro

“Ao cunhar o conceito de interseccionalidade, as feministas negras...

“A gente não aguenta mais enterrar mulher”, desabafa Vilma Reis

“A gente não aguenta mais enterrar mulher”, desabafa Vilma...

para lembrar

A questão do aborto influenciará o seu voto?

Na disputa presidencial entre os candidatos Dilma Rousseff do...

Atacante condenado por estupro faz campeã rejeitar homenagem

O polêmico caso de Ched Evans, jogador condenado a...

Como abordar os novos modelos familiares na escola e combater o preconceito?

por Maria Helena Vilela, diretora executiva do Instituto Kaplan onde...
spot_imgspot_img

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...

O combate ao racismo e o papel das mulheres negras

No dia 21 de março de 1960, cerca de 20 mil pessoas negras se encontraram no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, África do Sul,...

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...
-+=