Recordista de Copas, Formiga venceu timidez para comentar Mundial: ‘Como se fosse 1ª’

Enviado por / FonteG1, por Carol Prado,

Jogadora, que disputou sete Mundiais, estreou como comentarista no torneio e revive sentimentos que ajudaram a trilhar carreira. g1 conta histórias das profissionais que cobrem Copa do Catar.

Ao longo da carreira como jogadora de futebol, Formiga disputou sete Copas do Mundo — um recorde entre atletas brasileiros, homens e mulheres. Mas a estreia como comentarista do torneio, em 2022, trouxe de volta os sentimentos do primeiro Mundial que disputou, em 1995.

“Ainda fico nervosa. É como se estivesse jogando a primeira Copa do Mundo como atleta”, diz, em entrevista ao g1.

“Em campo, toco na bola e relaxo. Já no estúdio, fico pensando que tem milhares de pessoas ouvindo minha opinião.”

Formiga com a narradora Renata Silveira (à esq.) e a comentarista Renata Mendonça — Foto: Reprodução/Instagram/Formiga

Tímida desde criança, Formiga precisou treinar o psicológico para falar em frente às câmeras. Ela foi contratada neste ano para comentar seu primeiro torneio oficial, a Copa América feminina, no canal por assinatura SporTV. Ela já tinha palpitado em jogos amistosos na Globo.

“O começo foi meio assustador. É tudo muito diferente do que estou habituada a fazer. Mas, com o apoio dos colegas, aos poucos fui me soltando.”

Agora, com a Copa do Mundo, além do nervosismo de 95, a jogadora revive outras emoções antigas, que ajudaram a trilhar seu caminho no futebol. Como espectadora, Formiga não esquece os jogos de 94, que renderam o tetra do Brasil. “Vibrei muito. Eu e meus amigos íamos para a rua e, a cada partida, eu dizia ser um jogador da Seleção.”

1ª Copa aos 17

Naquela época, ainda não imaginava que, só um ano depois, estaria ela mesma em um Mundial, aos 17 anos, conhecendo o Estádio Rasunda, em Estocolmo, o mesmo que consagrou Pelé na Copa masculina de 58.

Miraildes Mota, verdadeiro nome da jogadora, nasceu em Salvador, em 1978, quando o futebol ainda era proibido para mulheres no Brasil, sob o argumento de que o esporte poderia “prejudicar a maternidade”. O decreto teve fim em 1979, mas só em 1983 a modalidade feminina foi regulamentada no país.

Na infância, apanhou do irmão por querer jogar futebol, em vez de brincar de boneca. Mas, com a ajuda da mãe, venceu a resistência dentro de casa para trilhar uma carreira vitoriosa: foi duas vezes medalhista olímpica e campeã da Copa América, além de acumular títulos do Pan-Americano e Libertadores. Decidiu se despedir da Seleção Brasileira em 2021, mas aos 44 continua na ativa, no time do São Paulo.

Atacante Formiga disputa bola com jogadora australiana — Foto: Reprodução/Globoesporte.com

São quase 30 anos desde a primeira Copa, e algumas brigas estão longe de serem vencidas. Formiga acredita que o futebol masculino ainda se esforça pouco pela igualdade de gêneros no esporte.

“Desde sempre, pedimos o apoio do masculino, para que os clubes coloquem o futebol feminino em suas páginas nas redes sociais, por exemplo. São poucos que fazem isso.”

Ela vê como simbólica sua participação em um Mundial de homens, como comentarista. “É um incentivo para que outras mulheres acreditem nos sonhos e busquem ocupar esses lugares, antes dominados pelos homens.”

E, se surgirem haters, provavelmente vão falar sozinhos. “Nem leio esses comentários para não me desgastar”, diz. “Às vezes, temos que ter sangue de barata e só tentar ficar tranquilas e continuar o nosso trabalho porque sabemos bem qual é o nosso propósito.”

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