Olympe de Gouges, a pioneira do feminismo que foi parar na guilhotina

Pouco conhecida no resto do mundo, Olympe de Gouges, autora da Declaração dos Direitos da Mulher, foi condenada à morte em plena Revolução Francesa

Por Luiza Villaméa, do Brasileiros

Olympe de Gouges era uma vanguardista. Na Paris de Maria Antonieta e Luís XVI, ela defendia a emancipação das mulheres, a instituição do divórcio e o fim da escravatura. À frente de um grupo de teatro formado apenas por mulheres, Olympe debatia suas ideias nas peças que escrevia, em panfletos e até em cartazes, que mandava colar pela cidade.

Em um de seus panfletos mais conhecidos, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, Olympe conclamava à ação: “Ó mulheres! Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?”. Era uma referência direta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, documento símbolo da Revolução Francesa, mas que pouco dizia sobre os direitos do sexo feminino.

No decorrer da revolução que derrubou a monarquia aos gritos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, Olympe não se limitou a criticar as mazelas do Antigo Regime. Criticava também os abusos do novo regime, escrevendo contra Jean-Paul Marat e Maximilian de Robespierre, líder dos jacobinos, o setor mais extremista da revolução, que ocupou o poder entre 1792 e 1794 e instaurou o Terror contra os opositores.

Robespierre, conhecido como “o incorruptível”, não perdoou a ousadia de Olympe. A ativista foi presa por questionar “valores republicanos” e, sem direito a advogado, condenada à morte. Acabou guilhotinada em 3 de novembro de 1793, 18 dias depois de Maria Antonieta, a antiga rainha consorte, que teria sugerido ao povo “comer brioches” na falta de pão.

olympe-de-gouges-morte

Olympe foi guilhotinada em Paris, em novembro de 1973 – Foto: Reprodução

Antes de ser executada, Olympe repetiu uma frase que já tinha divulgado em panfleto: “Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna”. Mais de dois séculos depois, a memória de Olympe passa por fase de maior reconhecimento na França. Desde o dia 20 de outubro, um busto em mármore da feminista se destaca entre os de outros personagens históricos célebres – todos homens – no Salão das Quatro Colunas, na Assembleia Nacional, em Paris.

+ sobre o tema

Gisele, eu tenho um cérebro!

Algum tempo atrás eu escrevi um artigo intitulado "E...

Relatório aponta desigualdades de gênero no acesso à educação

No marco da Campanha Educação Não Sexista e Anti...

Nós precisamos do feminismo

O machismo é assustador. Causa medo, pânico, oprime, violenta,...

Secretarias se unem para atuar em atenção à saúde da mulher

A Secretaria Estadual da Mulher (SecMulher) e a Secretaria...

para lembrar

spot_imgspot_img

Medo de gênero afeta de conservadores a feministas, afirma Judith Butler

A primeira coisa que fiz ao ler o novo livro de Judith Butler, "Quem Tem Medo de Gênero?", foi procurar a palavra "fantasma", que aparece 41...

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Fernanda Melchionna lança seu primeiro livro em Cachoeirinha neste domingo; “Tudo isso é feminismo?”

“Tudo isso é feminismo?” – uma visão sobre histórias, lutas e mulheres” marca a estreia de Fernanda Melchionna, no universo do livro. A bibliotecária...
-+=