PMs são acusados de agressão e racismo contra funcionário surdo da Unicamp

Fabiana Marchezi

Quatro policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Baep) de Campinas (a 93 km de São Paulo) são acusados de agressão e racismo contra o técnico administrativo Luis Felipe Moreno Ribeiro, 28, que trabalha na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Deficiente auditivo, Luis Felipe, que trabalha na Unicamp, não conseguiu conversar com a reportagem do UOL, porque seu aparelho de surdez foi quebrado durante a abordagem policial, mas segundo o pai adotivo da vítima, Otacílio Machado Ribeiro, o incidente aconteceu na noite de domingo (6), quando o carro de Luis Felipe, uma caminhonete S-250, quebrou no Jardim do Trevo. Ele viajava para São Paulo com um amigo, que não foi agredido.

“A intenção do meu filho era ir para São Paulo com o amigo levar um móvel na casa de uma tia, mas o carro quebrou e ele teve que parar. Enquanto ele acionava socorro pelo celular, quatro policiais chegaram em uma Hilux e o abordaram. Depois de revistá-los, os PMs perguntaram ao meu filho se ele tinha passagens pela polícia. Quando ele respondeu que não, um dos policiais desferiu um soco que quebrou o aparelho (auditivo) em três partes. Além disso, o PM teria xingado meu filho, que é negro, usando vários palavrões e palavras preconceituosas. Eu fiquei indignado”, contou o pai. “O pior é que ele nem ouviu os xingamentos porque nessa hora o aparelho auditivo já estava quebrado. Mas o amigo dele, que também é surdo, presenciou tudo”.

Após a agressão, o jovem foi encaminhado ao Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, e o médico que o atendeu recomendou que ele procurasse um otorrinolaringologista para retirar as partes do aparelho que quebraram dentro do ouvido. A cirurgia foi realizada na manhã de segunda-feira (7).

“Ele é funcionário público da Unicamp e está sem trabalhar desde ontem [segunda-feira (7)] porque sem o aparelho não consegue ouvir nada. Além disso, o ouvido está inchado e ele ainda sente dor. Agora, estamos esperando para ver se o aparelho terá conserto ou se teremos que adquirir outro. Enfim, a agressão trouxe muitos transtornos e não podemos deixar passar impune”, disse Otacílio.

Luis Felipe também passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) para comprovar a agressão.

O pai da vítima afirmou que está se mobilizando para que os policiais responsáveis sejam investigados e punidos. “Já fui ao 2º Distrito Policial e ao Ministério Público fazer a representação dos PMs. Não tenho os nomes dos policiais porque estavam de colete, mas tenho a placa do veículo e o horário. O que aconteceu foi uma vergonha. São criminosos de farda”, disse.

O delegado Humberto Parro Neto, titular do 2º Distrito Policial de Campinas, informou que a vítima representou contra os autores e fez exames de corpo de delito no IML, e que a Polícia Civil investiga o caso.

Ao Correio Popular, de Campinas, o capitão do Baep, Paulo Henrique Rosas, confirmou que a abordagem foi feita por policiais do batalhão, que já foram identificados, mas não tiveram os nomes divulgados porque a investigação é sigilosa. Os PMs continuarão em suas funções durante a apuração do caso. Vítima, testemunhas e PMs serão convocados a prestar depoimento a partir desta terça-feira (8).

Rosas também informou que será instaurada uma investigação preliminar para apurar a acusação de agressão e, caso seja confirmada, será aberto um inquérito policial.

 

 

 

Fonte: UOL

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