Pobreza menstrual: Adolescentes e mulheres dizem que deixaram de sair de casa por falta de absorvente em MT

Alunas contam que já deixaram de ir à aula por falta do item de higiene.

Não ter dinheiro para comprar um absorvente íntimo, que é um item básico de higiene pessoal, é um assunto delicado e realidade de muitas adolescentes e mulheres adultas.

Uma dessas mulheres, que preferiu não se identificar, relata que isso aconteceu por muito tempo. “Ao ponto de não ter e não poder sair de casa, para não passar vergonha na rua. Não tinha como comprar. Às vezes, usava papel higiênico, às vezes tecido”, relata.

O termo pobreza menstrual ficou mais conhecido nos últimos anos para tratar sério problema de saúde pública.

Mais de 4 milhões de meninas que frequentam as escolas públicas do país não têm, pelo menos, um dos produtos essenciais para higiene pessoal. E Mato Grosso é o segundo pior colocado entre os estados nesse tipo de assistência às estudantes.

No entanto, algumas escolas públicas estão se mobilizando para mudar essa situação. Em Várzea Grande, região metropolitana da capital, na Escola Estadual Irene Gomes de Campos, adolescentes estão aprendendo a aprender a confeccionar absorventes ecológicos, usando tecido de algodão.

As alunas que se interessarem vão aprender a produzir o próprio absorvente, que é feito de um tecido sustentável e que pode durar de 5 a 10 anos.

Em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, outro projeto foi criado para levar mais dignidade às adolescentes. A Escola Estadual Edith Pereira Barbosa colocou absorventes nos banheiros femininos à disposição das alunas que precisarem. Os produtos são doados pelas próprias estudantes e funcionárias da escola.

“Nós notamos uma quantidade grande de meninas que procuravam a coordenação pedagógica porque não tinham absorventes, ou descia a menstruação e elas não estavam preparadas. Dentro da coordenação havia dois homens, o que provocava constrangimento nelas. Muitas deixavam de ir à aula por isso”, conta a diretora Patrícia Karina Barbosa.

de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 60% de meninas em idade escolar a partir do 9° ano já passaram algum momento de pobreza menstrual. E por isso, a maioria delas deixou de frequentar a escola.

A aluna Isabele Marangão, de 13 anos, relata que já passou por essa situação.

“O constrangimento é muito grande. Eu mesma já passei por isso, em outra escola, e não tinha esse projeto0. Então eu preferia ficar em casa do que passar o constrangimento nesse lugar. Acho que o projeto é muito bom, porque quando começou, as meninas que preferiam ficar em casa começaram a perceber que elas poderia vir e teriam ajuda para a necessidade delas ali”, conta.

Mesmo sendo algo natural e comum para as mulheres, a menstruação ainda é um tema difícil para muitas adolescentes, até mesmo em casa.

“A pobreza menstrual não é só a falta do item, do absorvente, mas a falta da conversa, a falta da naturalização da menstruação, como algo normal e que acontece todo mês”, afirma a estudante de 17 anos, Isabela Zebina.

Em outubro do ano passado, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou uma lei que prevê a distribuição de absorventes nas escolas e nos postos de saúde para meninas e mulheres de baixa renda. A lei foi promulgada e agora aguarda a regulamentação por parte do estado.

+ sobre o tema

Por que parei de me depilar e aceitei que sou uma ‘mulher barbada’

Me senti mais confiante por ser eu mesma, sem...

Juarez Xavier: “Não existe meritocracia em sociedades desiguais”

Em entrevista à #tvCarta, o professor de Jornalismo Juarez...

Marta ultrapassa Klose e se torna a maior artilheira da história das Copas

É rainha que chama, né? no HuffPost A atacante Marta Silva,...

O que fazer para ajudar quem está num relacionamento abusivo

Todo mundo já esteve ou conhece alguém que esteve...

para lembrar

Mãe, a culpa é sua

Desde segunda-feira, 2, circulam pelas redes sociais alguns links,...

Grupo Mulheres do Brasil destaca importância de falar sobre racismo

O Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil lança...

Moda escrava: mulheres são maioria em trabalho indigno na área têxtil em SP

No ano passado, 139 pessoas foram resgatadas em condições...
spot_imgspot_img

Ação da ApexBrasil faz crescer número de empresas lideradas por mulheres nas exportações

Para promover mudança é preciso ação, compromisso e exemplo. Disposta a transformar o cenário brasileiro de negócios, há um ano a ApexBrasil (Agência Brasileira...

‘Não tenho história triste, mas ser mulher negra me define muito’, diz executiva do setor de mineração, sobre os desafios para inclusão na indústria

Diretora de relações governamentais e responsabilidade social da Kinross Brasil Mineração, Ana Cunha afirma que a contratação de mulheres no setor, onde os homens...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...
-+=