Segundo estudo feito por pesquisadores da PUC do Rio Grande do Sul, a pobreza infantil aumentou no país depois da pandemia. Levando em consideração os dados da PNAD Contínua, do IBGE, se concluiu que a proporção de crianças com até seis anos vivendo abaixo da linha da pobreza saltou de 36,1%, em 2020, para 44,7%, em 2021.
Isso quer dizer que cada pessoa da família vive, por mês, com o máximo de R$ 465. No ano passado, 12,7% estavam na faixa de extrema pobreza, onde a renda mensal por pessoa não passa de R$ 161. É a taxa mais alta desde o primeiro ano de coleta de dados pelo IBGE, em 2012.
Há sete anos, Adenilson recebe doações para manter uma cozinha comunitária funcionando a semana inteira, de onde saem 400 marmitas todos os dias. Segundo ele, a demanda parece só crescer.
“Tem muito mais gente sem o que comer. Não é só a pessoa que está em situação de rua que está passando necessidade, tem pessoas que têm residência, suas casas, mas não tem o que comer”, diz.
Além das marmitas, Adenilson distribui cestas básicas a famílias de recicladores de lixo. Por onde a caminhonete dele passa, saem adultos e crianças a procura de algo para se alimentar.
“Tem mãe que até vai pedir por precisão, porque as crianças amanhecem o dia e pedem um leite”, disse Francisca Maria do Nascimento.
Recorte da pobreza
Segundo o estudo, em números absolutos, são 7,8 milhões de crianças vivendo na pobreza e 2,2 milhões na extrema pobreza. Entre as regiões do Brasil, o quadro mais grave é no Nordeste, onde mais de 60% das crianças estão abaixo da linha da pobreza.
Apenas o Ceará teve taxa um pouco menor, de 59,6%. Em Fortaleza, a equipe do Jornal Hoje conheceu a Gleiciane. Os filhos delas são atendidos pelo Iprede, uma entidade filantrópica que acompanha mães e crianças na primeira infância em situação de vulnerabilidade, inclusive alimentar.
Gleiciane tem quatro filhos e conta que o pior momento da vida foi não poder atender o mínimo que as crianças pediam. Ela fala sobre o filho mais novo, que ainda não entende direito a situação que a família vive.
“Ele precisa merendar, almoçar, jantar e não entende quando digo que não tem. Não tem o que dizer. Acaba meu coração. Eu não tenho o que dizer para eles, eu falo que vou atrás”, disse.
O pesquisador que coordenou o estudo, André Salata, diz que ter um programa consistente e regular de transferência de renda é fundamental para começar a mudar esse retrato e que a atenção à primeira infância não afeta apenas as crianças e as famílias.
“É preocupante para o futuro do Brasil como um todo (…) Isso significa que, lá no futuro, a gente vai ter uma mão de obra menos produtiva. Então, tonos nós vamos sofrer com as consequências dessa taxa de pobreza muito elevada e que é estrutural na sociedade brasileira”, falou.