Poesias das quebradas de Salvador vão ser publicadas em livro

A obra “Poéticas periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana” reúne textos de poetas e poetisas da periferia de Salvador-BA e é resultado do trabalho coletivo de vários protagonistas de saraus, slams, grupos e coletivos de artistas da palavra. Com prefácio de Tia Má, orelha de Sueide Kintê, capa do poeta Marcos Paulo da Silva, contracapa de Allison Chaplin. O livro vai sair pela Editora Galinha Pulando e foi financiado através da 1ª Chamada do edital Calendário das Artes 2017, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), entidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA).
(Capa: Marcos Paulo Silva)
A coletânea registra a produção literária e traz denúncias contra o genocídio da juventude negra e periférica, racismo, homofobia, racismo religioso, machismo e todas as opressões. A publicação pretende dar visibilidade, proporcionar a compilação de poemas para fontes de pesquisas, além de valorizar o movimento de leitura e escrita, bem como fortalecer políticas de formação de leitores e facilitar o acesso à produção poética da periferia para os interessados. Além disso, o projeto é um instrumento de estímulo à criação poética para fortalecer o trabalho em grupo já realizado pelos diversos coletivos. A publicação deve facilitar a circulação da produção poética através dos saraus e slams e fomentar o mercado editorial local.
(Contracapa: Allison Chaplin)

O que pensam as/os autoras/es.
Para Adriele do Carmo (Sarau Arte-Livre), “Ter um poema meu publicado num livro que conta com nomes tão importantes e respeitados na literatura periférica de Salvador é sem dúvida uma das maiores alegrias, é um forma de confirmação da importância do meu trabalho”.

Milica San disse: “Dou sincero e alto valor a esta reunião de Poesia. Um sarau em papel impresso. Sincera gratidão. Nossas ideias juntas, nossos traços, nossos versos.”

Fabrício Britto (A Pombagem) diz: “Estou feliz em participar de uma obra tão representativa para a periferia, e mais feliz ainda por essa experiência propiciar a publicação de uma poesia que tem 10 anos.”

Amanda Quésia afirma: “É de extrema importância participar desse livro, onde pretas e pretos relatam sobre suas experiências, sobre a nossa realidade, que é cada vez mais desafiadora no nosso dia a dia. E podemos mostrar, a partir desse livro, que temos voz, sim, e que não vamos nos deixar calar diante de tantas desigualdades.”

Thi Zion fala: “Numa época de subtração de direitos arduamente adquiridos por organização e luta de vários movimentos e entidades sociais, a arte grita seu repúdio contra toda tirania e exploração hegemônica, contra toda forma de violência expressa num biopoder que se acha no direito de paralisar determinadas camadas sociorraciais.” E continua: “A poesia não pode ser apenas perfume, na rosa ela também é espinho e fura, sangra, e às vezes, é nosso próprio sangue banhado nela. Esta compilação da arte poética soteropolitana registra esta contundência periférica, este grito antes abafado e esta esperança por dias melhores.”

Para Renata Rimet, colaboradora do projeto, “A arte nos aproxima, nos integra, nos torna sociedade de fato. A poesia da periferia mostra sua cara, é importante descrever mazelas e destruir a grande farsa; é com inteligência, sabedoria e uma caneta nas mãos que essa turma contra ataca. São vozes a serem ouvidas, versos que revelam verdades, palavras tingidas de sangue jorrando amor por toda parte, em cada verso, o reverso se anuncia, com orgulho aplaudo de pé a publicação que se anuncia, a voz da periferia, palavra de ordem, desordem, agonia, em busca do seu espaço, respeito e verdadeira cidadania. Um caminho de muito sucesso a todos!”

Participam do livro: Vinícius Araújo, Gisele Soares, Marcos Paulo Silva, Cairo Costa, Riick Stiller, Camila Ceuta, Alex Bruno, Milica San, Mateus Skyjin, Taíssa Cazumbá, Preto Jhoy, Samuel Lima, Breno Silva, Isadora Nascimento, Kelvin Santos, Thi Zion, Dricca Silva, Negreiros Souza, Rilton Junior, Lislia Ludmila, Amanda Quésia, Preto Disgraça, José Cláudio Onofre, Danilo Lisboa, Josue Ramiro Ramalho, Ray Santana, Giovanni Cavalcanti, Conceição Ferreira, Lázaro da Paz, Marivaldo Gomes Gonçalves, Victória Alcântara, Tiago Oliveira Nascimento, David Alves Gomes, Gonesa Gonçalves, Lidiane Ferreira, Jennifer Santana, Iago Santana, Ian Santana, Amanda Denis, Ayala Santana, Jenifer  Oliveira, Rool Cerqueira, Vanessa Coelho, Jaqueline Ferreira, Mariana Oxente Gente, Kuma França, Lucas Silva, Guy Falcão, Heder Novaes, Pareta Calderasch, Niel Souza, Jackeline Pinto Amor Divino, Pedro Zaki, Pedro Maia, Allison Chaplin, Pedro Lucas, Anajara Tavares, Alan Felix,Andrei Williams, Geilson dos Reis, Udimila Santos, Marina Lima, Gamp, Igi Emi, Indemar Nascimento, Carlos Leleco, Carlos Meneses, Renildo Santos, Celeste Costa, Fabricio Britto e Patric Adler, Davi Mariston, Chirley Pereira, Manuela Ribeiro, Poeta Noite e Mano Jack, Gleide Davis, Zenon Santos, Fabrícia de Jesus, Bia Santana, Júlia Victória Tavares dos Anjos, Evanilson Alves, Diana Manson, Larissa Barros, Ayran Búfalo Reis Yaiá, Adriana Gatto, Michelle Saimon, Zezé Olukemi, Lucas Barbosa, Luan Victor, Luz Marques, Edson Junior, Rafael Pugas, Fabiana Lima, Ludmila Singa, Iaiá Vilanueva, Sandro Sussuarana, Jamile Santana, Yuna Vitória, Adriele do Carmo e Damiana Sá.

Difusão – Será feita uma tentativa de tarde de autógrafos na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que vai acontecer em agosto na capital paulista. Parte dos exemplares será entregue à Secretaria de Cultura do Estado para doação a bibliotecas públicas e comunitárias. O restante dos livros será distribuído entre os poetas como pagamento dos direitos autorais e para geração de renda para manutenção dos coletivos.

O Calendário das Artes propicia o financiamento de pequenos projetos e sua importância é fundamental. Para o jornalista e poeta Valdeck Almeida de Jesus, “As políticas públicas relativas a cultura, sejam dos governos federal, estadual ou municipal, são, na sua gênese e nas bases legais, acessíveis a todas e todos, de forma democrática e universal. Entretanto, o financiamento, devido a uma série de fatores, como complexidade dos grandes editais, burocracia inerente por exigência legal, total de dinheiro investido que nem sempre é o suficiente para todas as demandas, dentre outros aspectos, nem sempre consegue chegar nos poetas de rua, das periferias. Afinal, são centenas ou milhares de projetos inscritos, muitos deles por pessoas ou grupos já experientes, o que acaba dificultando o acesso a pequenos coletivos que, na sua maioria, está envolvida completamente fazendo malabarismos para manter as atividades, não sobrando tempo para se habilitarem e concorrerem em editais”.

 

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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