Poeta Sérgio Vaz se declara um sonhador e lamenta o racismo na arte

O escritor também falou sobre os atentados na França

Do Elaine elesbao

Ser poeta estava no destino de Sérgio Vaz. Nascido da cidade mineira de Ladainha ele foi para São Paulo aos 4 anos, com a família, que buscava uma vida melhor. Ainda criança, descobriu o amor pela leitura e, posteriormente, pela poesia. Tanta paixão motivou a criação do Sarau da Cooperifa, realizado há 14 anos no Bar do Zé Batidão (Jardim Guarujá, Zona Sul de São Paulo). Por lá, já passaram os rappers Mano Brown e MV Bill, a atriz Zezé Motta e o escritor moçambicano Mia Couto. “Todo mundo que curte cultura, de alguma forma, passa por lá”, destaca Vaz.

Como a literatura entrou na sua vida?
Meu pai trouxe de Minas Gerais o hábito da leitura. Ele ficava lendo durante a noite e eu achava aquela cena bonita. Certa vez, peguei um livro dele: Eram os deuses astronautas?, de Erich von Däniken. Meu pai descobriu meu gosto pela leitura e teve a sensibilidade de comprar livros infantis. Eu era muito tímido também, e a literatura era um lugar confortável para estar. Foi paixão à primeira vista.E a poesia?
Não gostava de poesia. Achava que ler poesia era uma frescura, mas gostava dos romances. Um dia, me interessei por música popular brasileira. Era 1983, eu servia o Exército e nem sabia que existia ditadura militar. Cantava Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, na voz de Simone, quando um sargento entrou gritando: “Isso é coisa de comunista!”. Aí pensei: “Pô, tudo isso dentro da música?”. Aí descobri que as letras de músicas podiam ser úteis não só para falar de dor de amor, mas também para lutar contra a ditadura de um país.Como nasceu o primeiro livro?
Engraçado que eu sempre gostei de ler, mas nunca me imaginei escrevendo. Tanto, que comecei escrevendo letras de música porque tinha uma banda. Só que de onde eu vim ninguém nasce para fazer verso, ser poeta. Nós nascemos para sofrer. Aí pensei: “Pô, vou escrever um livro!”. Juntei tudo o que eu tinha e, em 1988, nasceu Subindo a ladeira mora a noite.As atividades da Cooperifa começaram quando?Há 14 anos. Eu era desses garotos sérios que gostavam de ler, mas meus amigos odiavam. Assim, comecei a pensar que se pudesse fazer alguma coisa em prol da minha comunidade, faria em formato de literatura. Um dia, estávamos no bar eu e o meu amigo Marco Pezão, que fundou o sarau comigo. De repente, alguém disse: “Fala uma poesia aí!”. Declamei uma, depois o Marco falou outra e, assim, estávamos fazendo um sarau sem saber. A Cooperifa surgiu a partir da necessidade de divulgar a poesia em um lugar democrático.

Quais transformações você viu após a implantação do sarau da Cooperifa?

Somos de um bairro tão violento que tínhamos que mentir para conseguir emprego. Atualmente, as pessoas batem no peito e dizem: “Eu moro no lugar onde tem o sarau da Cooperifa”. A primeira coisa que mudou foi a autoestima, haja vista que, hoje, há uma biblioteca dentro do bar. Nós temos o Cinema na Laje às segundas-feiras e fazemos o sarau nas escolas. Nós recolocamos a poesia na pauta da comunidade. Tem o cara que gosta de samba, de rap e de funk e o cara que gosta de poesia. Isso era impensável há 15 anos.

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