A “nação de marginais” e a população brasileira

Difícil organizar as ideias e mais difícil ainda colocá-las no papel. Tudo bem, não disse nada de novo e nem que essa afirmação se faz, fruto de alguma iluminação.

Por Mônica Francisco Do Jornal do Brasil

O difícil é ruminar nosso cotidiano e despejá-lo aqui semanalmente. A cada dia nossa sociedade se mostra mais cruel com parte de seus cidadãos. Os últimos episódios das balas perdidas, das mortes das crianças, nos faz contemplar algo ainda mais tenebroso.

A guerra às drogas e às armas, de fato, só tem servido para continuar aquilo que a proposta e as ações estatais direcionadas ao processo de embranquecimento neste nosso rincão não conseguiu.

Um país que silencia ante a morte de mais de 50 mil filhos seus, renegados, não queridos, mas filhos, se entrega e auto denuncia-se como algoz.

Ao resistirem ao processo de embranquecimento e exclusão e demonstrarem ao longo dos séculos um nível sobrenatural de resiliência ante a total escassez de políticas e serviços públicos, e ainda teimarem em  encontrar formas de estar no mundo e em sociedade ainda que de forma precária, desafiam a ordem pensada para a sociedade brasileira.

Ao declara que há uma “nação de marginais”, o secretário de Segurança nos afirma em outras palavras que o antigo “estado paralelo” toma hoje proporções similares ao “Estado Islâmico”. Uma ordem onde o que importa são as armas, a guerra e nada mais.

Não podemos dissociar as consequências que sofremos hoje, das ações impetradas contra a população negra e não branca e que de maneira sofisticada se estende até nossos dias.

Minha inquietação é de que em nome da extinção desta tal “nação”, o que de maneira subjetiva ainda esteja em curso seja na verdade a verdadeira refeição ao povo negro brasileiro, que assim como nos tempos em que essa ação de embranquecimento era a tônica do discurso e das ações oficias, é a maioria da população brasileira.

Um grupo que continua crescendo e com as ações de auto-afirmação e elevação da auto-estima, saem das sombras da autodeclaração que mascara e se desnudam etnicamente.

Um país em que policiais ordenam que professores negros lembrem-se de fatos históricos para provarem suas competências e que dizem que cidadãos negros não têm perfil de quem lê, está mesmo fadada ao fracasso.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

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