Ponte entre Angola e Pernambuco

Fonte: Diário de Pernambuco –

O nome já diz muito sobre o grupo de jovens de dois dos bairros de maior vulnerabilidade social do Recife: Santo Amaro e Arruda. Chama-se Pé no Chão a organização que vem revolucionando o trabalho social no Recife,

Vanessa Carvalho e Pedro Dias Tomas, o Petchú, dançaram ontem acompanhados dos jovens bailarinos do grupo Pé no Chão no Pátio do Livramento. Foto: Juliana Leitao/DP/D.A Press

por ter criado um novo espaço de possibilidades, diversão, trabalho e pertencimento: a própria rua, onde os menores já preferiam estar, mais do que em suas próprias casas, em muitos casos. Já são inúmeras as conquistas deste grupo, institucionais e independentes. Desde prêmios até, o que é mais importante, a volta do jovem para uma convivência mais saudável dentro da família. Nas últimas semanas, os meninos e meninas do Pé no Chão conquistaram parceiros do outro lado do Atlântico. Pedro Vieira Dias Tomas, o Petchú, e Vanessa Cristina Carvalho são dançarinos angolanos que vivem em Lisboa, na filial do grupo de ballet que criaram na capital colonizadora.

Chama-se Ballet Tradicional Kilandukilo, fundado em Angola por dançarinos ligados a famílias que preservam antigas culturas, entre eles Petchú, que veio ao Recife graças a uma parceria do Pé no Chão com a ONG italiana Alta Mane. Ao saber da presença dos dançarinos na cidade, os organizadores do Festival Internacional de Dança do Recife incluíram as apresentações do grupo com os jovens do Pé no Chão em sua grade de programação. A última chance de vê-los atuando será neste domingo, no anfiteatro do espaço Nascedouro, no bairro de Peixinhos, às 16h. Foram três semanas de ensaios puxados, até os adolescentes aprenderem não só os movimentos de várias danças tradicionais do continente africano, mas também as músicas, os batuques e até a confecção do figurino. Neste caso, as mães dos menores também se envolveram na produção.

“Aqui eu consegui identificar neles coisas da África. A dança do afoxé tem muito a ver com o xinguilamento (dança ritualística espiritual), mas nem eles sabem o que esses movimentos representam”, observa Vanessa. “Está sendo um projeto muito forte, estamos entrando na casadeles, conversando com seus pais”, conta Petchú, que envolveu-se com as crianças da mesma forma que os coordenadores do projeto fazem: conhecendo o cotidiano, os problemas domésticos, a vida de cada um.

O trabalho também tem outro sentido para o angolano. “Os africanos vieram para cá e não voltaram mais. Tudo que eles influenciaram na cultura daqui também faz parte de nós. Vir aqui é um aprendizado sobre o nosso passado. O nome do nosso espetáculo (Brasil – Angola, Uma viagem do presente ao passado) remete a isso”, conta o bailarino.

A vinda dos africanos ao Recife, especialmente para se envolver com os jovens do Pé no Chão, é uma ação que pode virar um marco na cultura popular da cidade. Faz tempo que, através dos grupos de música e dança que mantém, o Pé no Chão quer tornar-se mais que um grande projeto social. Almeja, o que é mais importante, a emancipação dos seus integrantes a partir do que conseguiram aprender lá dentro.

Os angolanos sentiram isso tão bem que a proposta deles agora é formar uma representação do ballet Kilandukilu no Recife, através dos dançarinos do Pé no Chão. Para a apresentação deste domingo, eles irão receber representantes da embaixada de Angola no Brasil. “Eles conhecem bem o Kilandukilu, sabem que é uma referência em Angola, terão o maior prazer em nos apoiar aqui”, acredita. Os menores do Pé no Chão estão eufóricos com essa possibilidade.

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