Por políticas para imigrantes africanos, entidades mobilizam três Ministérios

Encontro aconteceu dia 13 em São Paulo e contou com CNIg/MTE, SEPPIR e MJ.

Por Wilbert Rivas – para o Jornal Conexión Migrante

Por meio da articulação de algumas entidades que trabalham com imigrantes e com políticas públicas migratórias, representantes de órgãos públicos federais estiveram reunidos na última sexta-feira (13/07) com as lideranças das entidades e imigrantes negros (africanos e haitianos). A reunião ocorreu como desdobramento das reivindicações expostas na Representação formulada dias atrás e dirigida à Presidenta Dilma e Ministérios responsáveis pela área de imigração e combate ao racismo.

O encontro se deu na Superintendência Regional do Trabalho, sede do Ministério do Trabalho e Emprego em São Paulo, e foi coordenada pelo Presidente do Conselho Nacional de Imigração/CNIg – Paulo Sérgio de Almeida. O CNIg é ligado ao MTE . Também participaram Ribamar Dantas, conselheiro do CNIg, Carlos Alberto Júnior, Ouvidor Nacional da Igualdade Racial, que representou a SEPPIR, João Guilherme Lima Granja, Chefe de Gabinete da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça.

Paulo Sérgio de Almeida do CNIg, João Guilherme Granja do MJ e Carlos Alberto Júnior da SEPPIR
A partir das demandas trazidas pelas entidades e o relato a respeito de casos de violência, racismo e xonofobia ocorridos recentemente em várias regiões brasileiras contra imigrantes africanos, foram dados alguns encaminhamentos, entre eles a criação de um GT (Grupo de Trabalho) no âmbito do CNIg, com participação das entidades de defesa de imigrantes, para estudo e sugestão de políticas migratórias específicas que atendam particularidades de estudantes africanos no Brasil; a realização de um seminário internacional sobre imigração, contemplando a situação africana e haitiana e o combate ao racismo e o acompanhamento por parte da Ouvidoria da SEPPIR e do Ministério da Justiça, desde já, das investigações do caso de Zulmira Cardoso (angolana) e Ana Francisca Villanueva (peruana) ambas assassinadas em SP no mês de maio, com indícios de motivação racial e xenofóbica.
Presentes na reunião, os membros da UNEA-SP, expuseram a dura realidade que enfrentam com relação a sua vida estudantil e dificuldades quanto à regularidade de seus vistos. Nem sempre as Faculdades (particulares ou públicas) agem corretamente e quem sai prejudicado é o imigrante em sua condição de estudante. Esses e outros problemas serão levados ao GT que será criado pelo CNIg.

Para Cleyton Borges, membro do CDHIC e da UNEafro, a denuncia dos movimentos sociais, toda mobilização, protestos e cobranças foram decisivos para a prisão de um dos suspeitos de matar a estudante Zulmira. “Porém, os movimentos apontam muitas outras demandas, por exemplo a criação de uma ampla campanha institucional antirracista, que valorize a presença africana no Brasil e contribua com a redução desses casos de violência racial” – disse.

O Ouvidor Nacional da SEPPIR, Carlos Alberto Júnior acompanhará oficialmente o caso de Zulmira Cardoso e também irá compor a organização de um seminário que discuta racismo e imigração.

O professor doutor Bas’ilele Malomalo, que é congolês, considera positiva a identificação do suspeito, mas alerta que este não é um caso isolado. “Não é só o caso da Zulmira. Nós estamos percebendo que começou a emergir certa xenofobia contra os africanos. Começou a emergir ou se radicalizar o racismo. Esse racismo que existe contra a população negra brasileira é transferido para os africanos. Isso porque a nossa cor de pele não permite estabelecer diferenças entre brasileiros e africanos.”

Durante a reunião foi confirmada a prisão de um suspeito de matar Zulmira

E disse ainda: “Todos nós repudiamos o racismo e concordamos em se pensar propostas concretas que passam pela organização de um seminário, de uma campanha educativa e de uma luta para a modificação da legislação migratória vigente. Sai dessa reunião com muita esperança e fé de que a morte da Zulmira como de uma mártir do racismo no solo brasileiro renderá ainda frutos. Mawetê, Mawetê! Nós Venceremos!” – Exaltou o professor universitário e fundador do IDDAB.

Paulo Sérgio de Almeida, Presidente do CNIg, salientou a importância da reunião provocada pelas entidades e assumiu o compromisso de levar adiante as pautas. “Vamos discutir com todo o plenário do Conselho a questão racial e propor a criação de um GT para aprofundar o tema trazido por vocês, especialmente dos estudantes angolanos” – comentou.
A reunião foi articulada por CDHIC – Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante, IDDAB – Instituto do Desenvolvimento da Diáspora Africana no Brasil e UNEA-SP – União de Estudantes Angolanos /SP e teve a presença de Missão Paz, Casa do Migrante, Igreja da Paz, Conselho da Comunidade Peruana, Presença da América Latina e Rede Espaço Sem Fronteiras. A intenção é manter a mesma união de forças de entidades que lutam por direitos dos imigrantes e combater de forma veemente o racismo e a xenofobia.

Fonte: IDDAB

+ sobre o tema

Sesc Bom Retiro realiza “Omodé: Festival Sesc de Arte e Cultura Negra para a Molecada”

A palavra omodé, em yorubá, abrange os universos das crianças....

Emicida critica Lobão em palco que retorna à Virada Cultural de São Paulo

Rapper se apresentou no palco Rio Branco, que é...

Minilâminas de pedra com 71 mil anos descobertas na África

  As minilâminas achadas fazem recuar em mais 30 mil...

Mariana Ximenes se recusa a ser empregada da novela das 19h

A atriz Mariana Ximenes não quer saber de ser...

para lembrar

‘Destacamento Blood’: Spike Lee expõe feridas da guerra e do racismo

“Os irmãos não morrem, se multiplicam”. A questão racial é...

Filme da produtora de Michelle e Barack Obama estreia em Hollywood

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e a mulher...
spot_imgspot_img

Morre o lendário produtor musical Quincy Jones, aos 91 anos

O músico, arranjador e produtor Quincy Jones, um dos principais nomes da música americana, morreu neste domingo (3) aos 91 anos. Ele foi reconhecido por trabalhos que...

‘Celebração e luta’: Alesp homenageia entidades do movimento negro de SP em sessão solene

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) realizou na noite desta sexta-feira (1º) uma sessão solene para homenagear 55 entidades do movimento negro que promovem a...

Ilê Aiyê meio século de luta, beleza e resistência

O mais belo dos belos está aniversariando. São 50 anos de história. Meio século de luta, resistência, dança, música, arte e negritude. O Bloco...
-+=