Presidenciáveis ‘acordam’ para poder das redes sociais

 

Fernanda Nidecker

A oito meses das eleições para presidente, partidos e pré-candidatos correm contra o tempo para ampliar sua atuação nas redes sociais, de olho em uma legião de eleitores cada vez mais influenciada pelo que vê e lê na internet.

Oficialmente, a campanha eleitoral na rede só começa no dia 6 de julho, mas legendas e candidatos já buscam criar laços com o eleitor que possam render frutos nas urnas, cientes do potencial das mídias como plataforma de discussão – que veio à tona, de forma mais evidente, durante os protestos de junho do ano passado.

 

Segundo dados do Nielsen IBOPE de dezembro de 2013, há hoje 58,2 milhões de brasileiros com acesso à internet em casa ou no local de trabalho. Deste total, 45 milhões estão conectados às redes sociais.

Este número pode ser maior se for levado em conta que o número total de pessoas com acesso à internet – incluindo pessoas que usam dispositivos móveis ou acessam a rede por outras vias – é de 108 milhões. O Nielsen Ibope, no entanto, não divulga que proporção deste total acessa as mídias interativas.

Protestos

Os protestos que levaram milhões de pessoas às ruas no ano passado trouxeram à tona o poder crescente que estas ferramentas vêm exercendo na sociedade brasileira.

Presidenciáveis 'acordam' para poder das redes sociais

 

rticuladas em redes como o Facebook e o Twitter – o Brasil tem o segundo maior número de usuários no mundo em ambas as plataformas, só perdendo para os Estados Unidos -, as mobilizações pegaram o governo da presidente Dilma Rousseff de surpresa.

Pouco depois das eleições de 2010, Dilma abandonou o diálogo virtual com os cidadãos, revelando, na avaliação da consultora política Gil Castillo, a falta de sintonia entre a classe política e a sociedade.

“O ano de 2013 expôs de maneira contundente essa insatisfação. Cansado de se comunicar com os políticos só durante as campanhas, esse cidadão saiu às ruas para mostrar que sabia fazer mais do que só falar alto nas redes sociais”, afirma Castillo, diretora da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP).

Ofensiva de Dilma

Depois de ver seu índice de popularidade despencar 27 pontos como resultado dos protestos, Dilma correu atrás do tempo perdido e vem incrementando sistematicamente a sua atuação nas mídias socias desde setembro do ano passado.

Reativou seus perfis no Twitter – onde angaria mais de 2 milhões de seguidores – e no Facebook, que passou a contar com postagens diárias. Abriu contas no Instagram e no Vine e lançou o Participatório e o Gabinete Digital. As duas últimas iniciativas servem de termômetro das discussões nas redes sociais e tentam aproximar a presidente dos internautas.

Na semana passada, a presidente nomeou Thomas Traumann para o comando da Secretaria de Comunicação Social, substituindo a ministra Helena Chagas. Ex-porta-voz da Presidência, Traumann vinha acompanhando de perto as ações de comunicação do Planalto nas mídias digitais e auxilia a presidente a formular seus tuítes.

A urgência do governo em querer entender e dialogar com a sociedade no universo virtual também se explica pela proximidade das eleições, em 5 de outubro.

Possíveis candidatos da oposição, como Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), coligado ao movimento Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, também investem nesse campo de ação.

A página de Eduardo Campos no Facebook, com mais de 288 mil seguidores, é citada como exemplo de interação entre político e eleitor. São raros os comentários postados por seguidores que ficam sem resposta da assessoria do socialista.

Já o mesmo não se observa nas páginas de Dilma Rousseff (a página administrada pelo PT tem 221 mil seguidores) e Aécio Neves (414 mil seguidores).

Mesmo com mais seguidores do que os adversários, o perfil de Aécio tem menos engajamento, que pode ser medido, entre outros indicadores, pelo número de usuários que estão “falando sobre ele”. Aécio também tem um perfil no Twitter, mas nunca tuitou.

Presidenciáveis 'acordam' para poder das redes sociais

 

Disseminação

Para Raquel Recuero, pesquisadora de mídias sociais da Universidade de Pelotas, as discussões que serão geradas nas redes sociais durante a campanha eleitoral podem sair do universo digital e influenciar o eleitorado que não tem acesso à internet.

“Os protestos mostraram que as discussões do Facebook vão parar dentro do ônibus, atingindo até quem não faz parte da rede”, afirma Recuero, que juntamente com outros dois pesquisadores está envolvida no projeto do CNPq Monitorando a Eleição, que pretende analisar como as postagens nas redes sociais poderão influenciar o resultado nas urnas.

Ela acredita que, apesar de a campanha continuar a ter como principal frente os programas eleitorais gratuitos no rádio e na televisão, em 2014 as redes sociais farão ressonância imediata do que se passa na tela – e vão pautar os programas a seguir.

“Vai ser uma campanha diferente, de retroalimentação entre TV e redes”, palpita.

Ataques

Mas para Alberto Valle, consultor em marketing político digital e fundador do site Eleitor Digital, a campanha política virtual “começou mal”.

 

Ele diz que a publicação de um texto anônimo na página do PT no Facebook chamando Eduardo Campos de “tolo” e “playboy” revelou o tom da disputa pelas redes.

“Se o objetivo era desgastar a imagem do adversário, o tiro saiu pela culatra. Jogaram baixo e deram a ele um belo espaço na mídia”.

Para o consultor, redes sociais sozinhas não elegem ninguém e seria um erro tentar captar corações e mentes na internet reduzindo o espaço virtual a uma espécie de palanque eleitoral.

“Só falar não adianta. Ganha a eleição quem consegue transformar as redes sociais em uma plataforma de comunicação com o eleitorado, por meio de engajamento e interação continuada”.

O PT reconhece que os comentários sobre Eduardo Campos foram um erro.

“Queremos evitar que episódios como o post com ofensas a Campos ocorram novamente”, disse Alberto Cantalice, vice-presidente e coordenador de redes sociais do PT, acrescentando que o PT subestimou o poder das redes sociais nas eleições de 2010.

“Não entendemos o peso que essa ferramenta tem para o Brasil”, disse ele à BBC Brasil.

Na semana passada, a legenda anunciou que vai transformar suas páginas virtuais em uma rede de notícias e, a partir de março, oferecerá oficinas para orientar militantes sobre o emprego de boas práticas nas redes sociais.

O partido contratou a agência Pepper para monitorar o que está sendo dito sobre a legenda na rede e interpretar a tendência dos debates nas mídias sociais para moldar o discurso dos candidatos.

A atenção especial que o PT pretende dar à campanha pela internet ficou evidente em um vídeo divulgado na semana passada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No vídeo, o petista disse que a rede deve ser usada para falar “coisas positivas” e, se for para fazer críticas, “criticar com fundamento”, sem fazer “jogo rasteiro da calúnia e do baixo nível”.

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Campanha antecipada

Os tucanos vão entregar a equipe de internet a Xico Graziano, diretor-executivo do site Observador Político. Graziano encomendou um levantamento da “reputação digital” de Aécio, com dados sobre procedência e qualidade das menções feitas sobre o tucano.

O PSB ainda não escolheu quem ficará à frente das ações da legenda nas redes sociais, que por enquanto estão sob comando de Vera Canfran, coordenadora da comunicação nacional do partido.

 

Em entrevista à BBC Brasil, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ministro Marco Aurélio Mello, alerta que os pré-candidatos devem ser cautelosos para que seu engajamento virtual não ganhe contornos de campanha antecipada, que pode ser punida com multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil.

Em dezembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma minirreforma eleitoral, que altera pontos da legislação eleitoral e regulamenta a campanha nas redes sociais.

A nova lei estipula que não será considerada campanha antecipada a atuação de pré-candidatos nas redes sociais para expor plataformas e projetos políticos, mas considera crime eleitoral a contratação direta ou indireta de pessoas para publicar mensagens com ofensas a candidato, partido ou coligação.

As mudanças, no entanto, só passam a valer nas eleições municipais de 2016 por terem sido aprovadas menos de um ano antes do pleito presidencial.

 

 

Fonte: BBC Brasil

 

 

 

 

 

 

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