Presidenciáveis, nós não aceitamos ser deixadas para depois

Urge a construção de um Brasil realmente inclusivo e representativo

Assistimos no último dia 28 de agosto ao primeiro debate entre candidatas e candidatos à Presidência da República. Uma ausência significativa marcou a noite. Apesar da maioria da população brasileira ser negra, só vimos candidaturas, jornalistas e assessores brancos.

Além disso, o debate não atendeu a duas das reivindicações sociais mais relevantes nacional e internacionalmente: o enfrentamento ao racismo e às desigualdades raciais e de gênero.

Vidas negras importam? Paridade de gênero? Para a maioria dos presidenciáveis, agora não é a hora.

Não se trata de agendas identitárias, como muitos tentam rotular. O racismo e o machismo estruturam e organizam as desigualdades no Brasil, e as medidas para enfrentá-los devem ser debatidas amplamente.

Mais uma vez se faz necessário lembrar que as brasileiras são 52% da população e que negras e negros são 56% do total de brasileiras e brasileiros. Se mulheres e negros compõem a ampla maioria da população brasileira, queremos saber qual o compromisso e as propostas das e dos candidatos à Presidência da República com as agendas do movimento negro, do movimento de mulheres negras e do feminismo popular.

Entre países latino-americanos, vimos o Chile se comprometer com a paridade de gênero em seus ministérios; na Colômbia temos Francia Márquez, mulher negra e quilombola, como vice-presidenta.

O debate presidencial demonstrou como é imperativo democratizar a política brasileira e como estamos distantes da realidade dos países vizinhos. É fundamental compreender o lema da Coalizão Negra por Direitos: “Enquanto houver racismo não haverá democracia”.

Na lógica do “é nós por nós”, estamos cada vez mais organizadas para disputar a política institucional. A iniciativa “Quilombo nos Parlamentos”, da Coalizão Negra por Direitos, apresenta mais de cem candidaturas ao Legislativo por todo o país, comprometidas com a agenda de lutas do movimento negro e de mulheres negras.

Campanhas como “Eu Voto em Negra”, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, “Estamos Prontas”, do Instituto Marielle Franco e Movimento Mulheres Negras Decidem, e o Projeto de Fortalecimento de Lideranças Negras, do Instituto de Referência Negra Peregum, estão impulsionando pessoas negras, em especial mulheres, a ocupar espaços de poder que sempre nos foram negados.

Nas palavras da socióloga Vilma Reis, “precisamos mudar a fotografia do poder”. É urgente a construção de um Brasil realmente inclusivo e representativo da população. Para tanto, é fundamental um compromisso explícito de quem busca ocupar a Presidência da República atuar em prol da equidade de classe, racial e de gênero para enfrentarmos efetivamente as desigualdades que mantêm a maioria da população excluída do acesso aos direitos garantidos pela Constituição.

A hora é agora.

+ sobre o tema

Quando raposas tomam conta do galinheiro, por Maurício Pestana

por Maurício Pestana  A expressão acima, dito popular...

Obama para de fumar e Michelle está ‘orgulhosa’

A luta contra o vício foi um dos temas...

Juízes lançam nota de repúdio à Condução Coercitiva de Lula

Juízes divulgam nota em que afirmam que não se...

para lembrar

DEM: Avariada, sigla perde influência e decresce após escândalo no DF

Por: BRENO COSTA   Além das turbulências na...

PV: convenção começa com faixa de Serra e nenhuma de Marina

A convenção do Partido Verde que vai homologar...

Campanha de Marina Silva aposta no uso da internet

Com candidatura própria, Marina contará com pouco mais de...

Após almoço com Dilma, Ciro se diz “disciplinado” e declara apoio ao PT

Por: Camila Campanerut O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE)...

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Militares viram no movimento negro afronta à ideologia racial da ditadura

Documento confidencial, 20 de setembro de 1978. O assunto no cabeçalho: "Núcleo Negro Socialista - Atividades de Carlos Alberto de Medeiros." A tal organização,...

Filme de Viviane Ferreira mescla humor e questões sociais com família negra

Num conjunto habitacional barulhento em São Paulo vive uma família que se ancora na matriarca. Ela é o sustento financeiro, cuida das filhas, do...
-+=