Preta Ferreira é premiada no Festival de Gramado. ‘Tentaram me silenciar, voltei gritando’

Enviado por / FonteRede Brasil Atual

A publicitária e “artivista” Janice Ferreira da Silva, a Preta Ferreira, foi premiada, neste sábado (26), com o troféu Kikito da 48ª edição do Festival de Cinema de Gramado. O prêmio foi concedido por sua atuação como atriz no curta Receita de Caranguejo (2020). Dirigido por Issis Valenzuela, o filme também recebeu um Kikito pelo “Melhor Desenho de Som”, assinado por Isadora Torres e Vinicius Prado Martins.

O anúncio foi feito pela realizadora audiovisual Juliana Balhego e a cineasta e fotógrafa Safira Moreira, ambas mulheres negras. Na cerimônia, realizada de forma virtual e transmitida pelo Canal Brasil, pela TVE-RS e pelas redes sociais, Juliana abriu o discurso lembrando que no “país que insiste em criminalizar a narrativa de corpos pretos ao longo do séculos”, as mulheres negras “seguem lutando e construindo outros modos de existência e resistência. Resistimos através das artes, da música, da dança. Resistimos através do cinema”, destacou.

Safira prosseguiu, afirmando que essa população faz da sétima arte “mais um espaço de liberdade e inventividade. Por isso ver na tela o trabalho de uma mulher negra, que é tantas, merece destaque. Por mais que tentem rotular, encarcerar, aniquilar nossas existências, mostramos que somos muitas. Podemos ser artistas, cantoras, produtoras, ativistas, atrizes num só corpo. É por isso que o Prêmio Especial do Júri vai para Preta Ferreira por sua atuação no curta ‘Receita de caranguejo”, anunciou a cineasta.

“Voltei gritando”

Em 24 de junho do ano passado, Preta foi presa por sua luta por moradia, sob acusações frágeis e arbitrárias. Ela é filha da coordenadora do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC) e da Frente de Luta por Moradia (FLM), Carmem Silva, candidata à vereadora pelo PT em São Paulo. A artista chegou a perder vários papéis e contratos que tinha como atriz durante os 100 dias que ficou na prisão. “Quem vai me devolver o tempo e os trampos perdidos? (Para) Onde mando a conta”, denunciou pelo Twitter, em julho deste ano.

Ao receber a notícia do prêmio, comemorou. “Ano passado tentaram me silenciar, esse ano eu voltei gritando”, ironizou. Ela dedicou a estatueta “à toda a população indígena e preta desse país. Eu ofereço aos favelados, aos sem-teto, aos encarcerados, aos minorizados”, escreveu em sua conta no Instagram. “A todos que vivem de arte nesse país: ofereço esse prêmio a todas as pessoas que têm o sonho de serem inseridas no mercado cinematográfico – lugar tão estático e seletivo. Nós vamos estar em todos os espaços de poder”, garantiu a artista e ativista.

Outros prêmios

Vencedor na categoria de melhor curta-metragem brasileiro do Festival de Gramado 2020, O Barco e o Rio também mostra a importância da representatividade. Com a direção de Bernardo Ale Abinader, a produção amazonense venceu também os prêmios de Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Direção e Júri Popular.

“Eu espero que as pessoas assistam mais as nossas narrativas, as histórias do Amazonas contadas por amazonenses. Que esse prêmio sirva de inspiração para saber que podemos sim fazer cinema sobre o Amazonas, no Amazonas”, afirmou o diretor do curta.

O longa pernambucano “King Kong en Asunción”, de Camila Cavalcante, conquistou quatro Kikitos, entre eles o de Melhor Filme. A 48ª do Festival de Cinema de Gramado também premiou a obra “La Frontera”, de David David como o Melhor Longa Estrangeiro.

Confira todos os vencedores do Festival de Gramado

Longa-metragem brasileiro

Melhor Filme – King Kong en Asunció

Melhor Direção – Ruy Guerra, por Aos Pedaços

Melhor Ator – Andrade Júnior, por King Kong en Asunción

Melhor Atriz – Isabél Zuaa, por Um Animal Amarelo

Melhor Roteiro – Felipe Bragança, por Um Animal Amarelo

Melhor Fotografia – Pablo Baião, por Aos Pedaços

Melhor Montagem – Eduardo Gripa, por Me Chama Que Eu Vou

Melhor Trilha Musical – Salloma Salomão, por Todos os Mortos, e Shaman Herrera, por King Kong en Asunción

Melhor Direção de Arte – Dina Salem Levy, por Um Animal Amarelo

Melhor Atriz Coadjuvante – Alaíde Costa, por Todos os Mortos

Melhor Ator Coadjuvante – Thomás Aquino, por Todos os Mortos

Melhor Desenho de Som – Bernardo Uzeda, por Aos Pedaços

Prêmio Especial do Júri: Elisa Lucinda, por Por que você não chora?

Menção Honrosa do Júri: Higor Campagnaro, por Um Animal Amarelo

Longa-metragem estrangeiro

Melhor Filme – La Frontera

Melhor Direção – Mariana Viñoles, por El gran viage al país pequeño

Melhor Ator – Anibal Ortiz, por Matar a un Muerto

Melhor Atriz – Daylin Vega Moreno (Diana), Sheila Monterola (Chalis), por La Frontera

Melhor Roteiro – David David, por La Frontera

Melhor Fotografia – Nicolas Trovato, por El Silencio del Cazador

Prêmio Especial do Júri: El Gran Viaje al País Pequeño

Longa-metragem gaúcho

Melhor Filme – Portuñol, de Thaís Fernandes

Curta-metragem brasileiro

Melhor Filme – O Barco e o Rio

Melhor Direção – Bernardo Ale Abinader, por O Barco e o Rio

Melhor Ator – Daniel Veiga, por Você Tem Olhos TTristes

Melhor Atriz – Luciana Souza, Inabitável

Melhor Roteiro – Inabitável, Matheus Farias e Enock Carvalho

Melhor Fotografia – O Barco e o Rio, para Valentina Ricardo

Melhor Montagem – Você Tem Olhos Tristes, para Ana Júlia Travia

Melhor Trilha Musical – Atordoado, eu permaneço atento, para Hakaima Sadamitsu, M. Takara

Melhor Direção de Arte – O Barco e o Rio, para Francisco Ricardo Lima Caetano

Melhor Desenho de Som – Receita de Caranguejo, Isadora Torres e Vinicius Prado Martins

Prêmio especial do júri: Preta Ferreira, por Receita de Caranguejo

Júri Popular

Curta Brasileiro: O Barco e o Rio, de Bernardo Ale Abinader

Longa Estrangeiro: El gran viaje al país pequeño, de Mariana Viñoles

Longa Brasileiro: King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante

Júri da Crítica

Curta Brasileiro: Inabitável

Longa Estrangeiro: El Gran Viaje al País Pequeño

Longa Brasileiro: Um Animal Amarelo

Redação: Clara Assunção

Leia também:  Atrizes negras dominam premiação do 48º Festival de Cinema de Gramado

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