A primeira mulher negra a escrever um romance no Brasil

No âmbito das comemorações do Mês da Consciência Negra, a Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, homenageia Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher negra a escrever um romance no Brasil

Por MÁRCIA PINNA RASPANTI, do História Hoje 

Nascida em São Luís (MA), em 1825, Maria Firmina não pertencia a uma família abastada, mas foi viver na casa de uma tia cuja situação lhe permitiu ter acesso aos estudos. Em 1847, foi aprovada num concurso para professora de primeiras letras, profissão que exerceu até 1881.

Em 1859, publicou o romance “Úrsula”, de temática abolicionista, que narra uma história de amor entre dois jovens, Úrsula e Tancredo. Seu nome foi omitido na primeira edição; a autora apareceu apenas como “Uma Maranhense”, seguindo uma tradição de anonimato bastante comum entre as poucas mulheres que publicaram livros na época. A própria escritora afirma que “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”.

Com características folhetinescas no que se refere ao enredo e à narrativa, a obra, contudo, retrata com sensibilidade o drama dos escravos e afrodescendentes. É, por isso, considerada o primeiro romance abolicionista do Brasil, antecedendo, em mais de dez anos, “Vítimas-algozes”, de Joaquim Manuel de Macedo (1869) e “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães (1875).

Além desse livro, Maria Firmina dos Reis escreveu o romance “Gupeva”, de temática indigenista, e o livro de poemas “Cantos à Beira-Mar” (ambos de 1861). Publicou também o conto “A Escrava” e poemas em diversos jornais, tais como “A Imprensa”, “A Pacotilha” e “Diário do Maranhão”. Foi, ainda, compositora e folclorista. Em 1822, perto de se aposentar, fundou uma escola gratuita, que desagradou à sociedade por misturar alunos de ambos os sexos e acabou por ser fechada em três anos. A escritora faleceu no Maranhão em 1917, aos 92 anos.

O trabalho de Maria Firmina dos Reis permaneceu desconhecido do grande público até a década de 1970, quando foi reeditado. A Biblioteca Nacional tem exemplares de seu romance “Úrsula” e de “Cantos à Beira-Mar” na Seção de Obras Gerais, bem como vários periódicos em que ela publicou seus poemas, alguns dos quais podem ser consultados na Hemeroteca Digital.

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Consulte o acervo em: http://acervo.bn.br

Acesse, também, a Hemeroteca Digital no link: http://acervo.bn.br

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional

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