Aos 83 anos, Osvaldo Pereira é uma referência para todas as gerações e tribos das pick-ups no País
Foto: Felipe Larozza
Numa época em que não havia DJs hypados como Alok ou David Guetta e a cena do hip hop nem tinha arrebentado na periferia, Osvaldo Pereira, 83 anos, botava todo mundo para chacoalhar nos ‘bailes mecânicos’ que se despontaram na capital paulista no final dos anos 1950.
Uma referência para todas as gerações e tribos das pick-ups, o primeiro DJ do Brasil se mantém na ativa animando os mais diferentes tipos de evento, dos bailes da terceira idade às festas de música eletrônica.
Seu Osvaldo inspira uma programação especial voltada para idosos que o Sesc Rio Preto realiza nesta quarta-feira, 24. E, claro, com a presença do próprio DJ, que promete conduzir o público por uma viagem musical no tempo.
Ele chegou às ‘festas americanas’ (como eram chamadas as festas que rolavam em apartamentos e residências paulistanas na segunda parte da década de 1950) do Edifício Martinelli, no centro de São Paulo, por conta de uma paixão de infância: o rádio.
Criado na roça, no sul de Minas, Seu Osvaldo acompanhava a irmã aos bailes e adorava ouvir os programas de rádio. Ele até se lembra da primeira vez que viu um aparelho, que naquela época era cobiçado como a TV de última geração dos dias de hoje. “Minha mãe era lavadeira e eu entregava as trouxas de roupas para ela. Um dia, passando em frente ao bar da vila, tinha um rádio na Voz do Brasil. Fiquei encantado ao ouvir O Guarani (de Carlos Gomes) na abertura. E fiquei me questionando como a música tinha chegado até ali, por onde ela passou”, conta em entrevista ao Diário.
Foto: Felipe Larozza
Ao se mudar para São Paulo, em 1946, na adolescência, descobriu um curso de rádio por correspondência e começou a trabalhar numa loja que montava e consertava rádios e aparelhos de som. Não demorou muito para começar a montar seus próprios aparelhos e a animar festinhas que rolavam em bairros.
“Quando construí meu primeiro aparelho, fui chamado para tocar num piquenique, que é o que chamam de rave hoje. Logo depois, um pessoal começou a realizar ‘domingueiras’ no Edifício Martinelli, e me chamou pra tocar”, relembra Seu Osvaldo, que ficou por um bom tempo longe das pick-ups, retomando o trabalho apenas em 2003, quando a jornalista Claudia Assef o procurou para contar sua trajetória no livro Todo DJ Já Sambou: A História do Disc-jóquei no Brasil (Conrad).
“Fui chamado para tocar no evento de lançamento do livro, em uma praça, com dois toca discos e um fone de ouvido. Nossa, foi como voltar no tempo. Desde então retomei essa atividade”, conta ele, que também trabalhou por 12 anos na indústria de eletrônicos Philco, onde se aposentou.
Analógico X digital
Quando Seu Osvaldo despontou nos bailes mecânicos, o som que animava as festas era o jazz norte-americano, além de ritmos como o bolero e o samba canção. Hoje, o repertório dele também envolve décadas de 1970 e 80. Mas também tem espaço pra coisas, digamos, mais atuais. “Meus dois filhos também são DJ, e eles me ajudam a ficar inteirado dessa música de hoje. Eles são minha versão internauta (risos).”
Os discos de vinil continuam acompanhando o DJ pioneiro, mas ele também se garante com um notebook, que traz armazenado mais de 4 mil músicas. “É mais prático e facilita no transporte. Eu nunca imaginava que a música poderia ser armazenada assim. É uma revolução total”, opina.
A história de Seu Osvaldo também é contada no curta-documentário Orquestra Invisível Let’s Dance, lançado pela diretora Alice Riff em 2016. O filme será exibido antes da apresentação do DJ. Além de algumas cenas raras, o curta ainda mostra uma entrevista com o mestre Tony Hits sobre os bailes blacks da década de 1970 e o racismo nas baladas.
Serviço
- Orquestra Invisível Let’s Dance, de Alice Riff. Hoje, às 20h. Noite do Vinil com DJ Osvaldo Pereira. Hoje, às 20h30. Sesc Rio Preto (Av. Francisco das Chagas Oliveira, 1333). Gratuito