Prisão de torcedores deveria servir de exemplo para o futebol brasileiro

Enviado por / FonteUOL, por Jeferson Tenório

A condenação de três torcedores racistas na Espanha demonstra que, apesar da demora, estamos avançando em termos de uma sociedade que quer viver livre do racismo. A postura de Vini Jr. diante da violência que vinha sofrendo é, sem dúvida, um marco histórico na luta contra o racismo no futebol mundial.

O jogador serve de exemplo ao não se calar. Se posicionou contra as ofensas racistas durante os jogos. Foi chamado de macaco por um estádio inteiro, penduraram um boneco enforcado com o número da sua camisa e, mesmo quando o presidente da Liga Espanhola o acusou de manchar a imagem do Real Madrid, o jogador levou às últimas consequências para que os torcedores fossem punidos.

Torcedores são condenados por racismo contra Vini JrImagem: Getty Images

Assim como Rosa Parks, ativista negra que em 1955, no Alabama (EUA), se recusou a ceder um lugar no ônibus para uma pessoa branca, ou ainda quando Martin Luther King liderou um movimento para que negros pudessem entrar numa piscina num hotel em 1965, Vini Jr. entra para o rol de nomes icônicos que se recusaram a naturalizar o racismo.

O caso Vini Jr. deveria servir de inspiração para o Brasil. O racismo no futebol se naturalizou assim como em todos os setores da sociedade. Já existem projetos de lei que estabelecem penalidades por casos de preconceito por raça, cor, etnia, religião ou nacionalidade em eventos esportivos.

No entanto, dificilmente os episódios levam a prisão de torcedores racistas. Assim, a não aplicação de punição para esses torcedores eleva a sensação de que tudo pode em nome do time.

Endurecer a lei que criminaliza atitudes racistas no futebol poderia inibir e, ao mesmo educar, as pessoas. O estádio não pode ser mais visto como um lugar em que vale tudo, um lugar onde se pode dizer tudo em nome de um extravasamento da paixão esportiva.

Os xingamentos racistas não são frutos do “calor da hora”. São frutos de uma mentalidade preconceituosa que se aproveita do racismo recreativo para naturalizar a violência.

A condenação dos torcedores também não deixa de ser uma resposta importante para uma Europa que caminha para o aumento da extrema-direita no parlamento. Os países têm tomado um rumo perigoso nas políticas sobre imigração, por exemplo, aumentando o racismo e xenofobia.

Neste sentido, o futebol como um espaço em que movimenta milhões de pessoas pode servir de veículo para uma conscientização em massa.

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...