Promotor classifica de chacina morte de cinco jovens por policiais no Rio

A morte de cinco jovens no último sábado (28), fuzilados dentro de um carro por policiais militares (PMs), foi classificada de chacina pelo promotor Fábio Vieira dos Santos, responsável pelo caso. Ele está apenas aguardando a remessa dos autos pela polícia para fazer a denúncia à Justiça, o que pode acontecer nos próximos dias.

Por Vladimir Platonow  da Agência Brasil

O caso ocorreu no bairro de Costa Barros, na zona norte do Rio, e o carro foi atingido por 63 tiros, segundo a perícia.

“Chacina é um nome popular que denota morte coletiva por conta de uma ação criminosa engendrada para esse fim. Se as pessoas que são pagas para proteger, são funcionárias públicas, os policiais militares, miram seus fuzis e suas pistolas para dentro de um veículo, que não sabem se ali tem duas, quatro, seis pessoas, e o veículo vira uma peneira, eles querem matar quantas pessoas existirem naquele carro. Na minha opinião, isso caracteriza o que popularmente se chama de chacina”, afirmou o promotor.

Santos recebeu, juntamente com o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira, parentes de duas das vítimas: Mônica Aparecida Correia e Jorge Augusto Vieira, mãe e padastro de Cleiton Correia de Souza, de 18 anos, e Carlos Henrique do Carmo Souza, pai de Carlos Eduardo de Souza, de 16 anos.

O promotor descartou a possibilidade de legítima defesa, inicialmente alegada pelos PMs, que disseram ter sido alvejados por um dos passageiros do carro e por dois homens que estavam em uma motocicleta ao lado do veículo. “As informações que me foram passadas, em nenhum momento, rascunham uma possibilidade de legítima defesa. Eu não vejo nem uma possibilidade remota de que essa situação, que em um primeiro momento eles quiseram declarar na delegacia, possa encontrar respaldo no que vier a ser produzido”, disse Santos.

Monica Aparecida Santana Corrêa, mãe de Cleiton, uma das vítimas, cumprimenta o procurador-geral de Justiça do  Rio  de  Janeiro,  Marfan  Vieira,  e  diz  que  está  em pé à base de remédioseFernando Frazão/Agência Brasil
Monica Aparecida Santana Corrêa, mãe de Cleiton, uma das vítimas, cumprimenta o procurador-geral de Justiça
do Rio de Janeiro, Marfan Vieira, e diz que está em pé à base de remédioseFernando Frazão/Agência Brasil

A mãe de Cleiton revelou que as famílias dos jovens ainda não tinham recebido qualquer apoio do governo do estado. “Essa parte de amparo às famílias, nós estamos decepcionados, porque não tivemos nada. A mãe do Carlos [Eduardo] passa mal, está à base de medicamentos, e vai para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento]. Ela está caindo em depressão. Eu estou em pé à base de remédios. Eu quero pedir, não esperem uma mãe morrer, porque o filho já foi. Pois quem devia nos socorrer não está nem aí para a gente”, desabafou Monica, que ficou com seis filhos para cuidar.

Carlos Henrique, pai de Carlos Eduardo, pediu que a tragédia não seja em vão e que o governo traga melhorias para o bairro, um dos mais pobres do Rio, para onde fugiu boa parte dos criminosos expulsos dos morros onde foram instaladas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). “Espero que vá mais segurança para aquela área, que tenha esporte e lazer, porque a população lá não tem nada.”

Os moradores estão organizando uma passeata, no próximo sábado (5), começando no Parque Madureira, até Costa Barros. Além de Cleiton e Carlos Eduardo, morreram Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, e Roberto de Souza Penha, de 16 anos. Os quatro PMs estão presos preventivamente no Presídio Vieira Ferreira Neto, em Niterói.

A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos recebeu nesta quarta-feira três das famílias dos jovens mortos em Costa Barros. Eles foram recebidos pela secretária Teresa Cristina Cosentino. No encontro, foram feitos esclarecimentos sobre os procedimentos para obtenção da indenização e o ressarcimento das despesas com os funerais e sobre a inclusão no Sistema Integrado de Proteção de qualquer pessoa que se sinta ameaçada.

+ sobre o tema

Inscrições para o Enem começam nesta segunda (5)

As inscrições para o Enem 2023 começam nesta segunda-feira (5). Os...

‘Racismo é estrutura que aprisiona pessoas negras’, diz Bárbara Carine

Desejos por profundas e assertivas mudanças no aspecto educativo...

3 anos sem Miguel: ‘Eles podem ter a influência que for, mas não vou me calar’, diz mãe

Nesta sexta-feira (02) se completam três anos da morte do...

para lembrar

“Socorro”, gritou mais um jovem negro antes de ser executado por um PM

Vídeo mostra a execução. Porém, desmentindo as imagens, Secretaria...

Mirians e Thamiris – o massacre de mulheres negras e a lei de araque

“No Brasil, o racista pode se lambuzar em piadas...

A Bahia está mergulhada num mar de sangue

Postura radical é inaceitável para policiais acostumados a chutar...
spot_imgspot_img

Mudar a pergunta é revolução

O assassinato de Genivaldo de Jesus —o homem negro, com esquizofrenia, asfixiado até a morte numa viatura transformada em câmara de gás por policiais rodoviários federais—...

A carne mais barata no Carrefour

Eis a imagem: um casal negro encostado a uma parede no chão frio em mercado da rede Carrefour em Salvador. Sob o efeito de tapas...

Luedji Luna denuncia racismo em abordagem policial: ‘Com arma apontada’

Luedji Luna usou as redes sociais para denunciar uma situação de racismo sofrida por ela e sua família em São Paulo. A cantora disse que...
-+=