A proporção de negros e pardos entre os mortos pela polícia no Rio cresceu em 2019. Microdados do Instituto de Segurança Pública (ISP), obtidos pelo EXTRA via Lei de Acesso à Informação, revelam que, juntos, negros e pardos representam 78,4% — 342 de um total de 436 — das vítimas de homicídios decorrentes de intervenção policial no primeiro trimestre do ano. No mesmo período do ano passado, o percentual era de 71,5%. Por outro lado, a proporção de brancos vítimas de homicídios em confrontos caiu de 17,9% para 12,8%.
Por Rafael Soares, do Extra
Os irmãos Victor Hugo e Roger dos Santos Silva, de 16 e 18 anos, fazem parte dessa estatística. O mais novo é negro, o mais velho, pardo. Os dois foram mortos por PMs do Batalhão de Choque dentro de uma casa no Morro do Fallet, em 8 de fevereiro, junto com outros sete homens. A polícia afirma que o bando estava armado e atacou os agentes. Parentes das vítimas, no entanto, dizem que eles foram executados.
Dois meses antes dos homicídios, Victor Hugo e Roger se mudaram do Fallet. A mãe dos dois queria tirá-los do cotidiano de tiroteios da favela. No entanto, eles ainda passavam os fins de semana com parentes e amigos que ainda moravam lá.
— Eu não sei o que eles estavam fazendo naquela casa. Eles não eram santos. Só o que sei é que, naquele dia, destruíram minha vida. Meu mundo não é mais o mesmo sem meus filhos — afirma a mãe dos dois, que pediu para não ser identificada.
Analisando isoladamente cada grupo, a proporção de negros mortos aumentou de 23% para 27%. Já a de pardos avançou de 48% para 51%. Os dados do ISP também mostram que a porcentagem de adolescentes mortos pela polícia cresceu. No primeiro trimestre de 2018, 1,6% dos mortos tinham até 17 anos. Em 2019, esse índice já chegou a 5%.
Mãe contesta versão
Todos os casos analisados foram registrados por policiais que afirmaram terem sido atacados e, em seguida, revidaram os tiros. Parentes de várias vítimas, entretanto, contestam o relato da polícia e afirmam que seus filhos eram inocentes.
Um desses casos mais recentes aconteceu em 28 julho, quando o frentista Daniel Rangel foi morto por cinco tiros disparados por policiais do Bope no Morro do Estado, em Niterói. A PM alegou que “um criminoso morreu após atirar contra os policiais”. Até hoje, a mãe de Daniel, a diarista Ana Cláudia Rangel, de 42 anos, não se conforma com a versão dos militares.
— Dói muito para uma mãe quando tacham o seu filho como bandido. Ele estava voltando do trabalho, com o uniforme na mochila — lembra Ana Cláudia.