A campanha contra a jornada de seis dias de trabalho e um de descanso pode não conseguir alcançar agora a mudança para quatro dias de trabalho e três de descanso, mas a mobilização tem força para alterar o teto para cinco dias de trabalho e dois de descanso. Sem redução de salário, claro.
O Brasil vive uma epidemia de burnout, com trabalhadores estafados, fisicamente degradados e psicologicamente desgastados. Com isso, muitos não conseguem recuperar as suas forças no único dia de descanso ao qual tem direito. Que dirá ter vida social, espaço para a família, tempo para formação pessoal ou simplesmente pensar em qualquer coisa que não seja o serviço.
Erra quem pensa que, quando o empregador tem mais tempo do trabalhador à disposição, a geração de riqueza será melhor. A falta de descanso reduz significativamente a produtividade, fazendo com que, não raro, as horas a mais sejam um freio e não um acelerador para as necessidades da empresa, do indivíduo e da sociedade. Cai a qualidade de vida, mas também a do serviço prestado e da mercadoria produzida.
O debate do 6 x 1, durante o governo Lula 3, puxada pelo vereador eleito Rick Azevedo (PSOL-RJ) e pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) atualiza a discussão sobre a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais no Lula 2, encabeçada pelas centrais sindicais, que, na prática, reduziria para cinco dias por semana, considerando que o teto diário é de oito horas.
Há quem defenda que cada categoria chegue à sua redução de jornada através de negociações coletivas. Quando o sindicato é forte, temos bons resultados. Mas e quando não for, o que sugerimos aos trabalhadores, ainda mais depois da Reforma Trabalhista, que enfraqueceu essas instituições? Cada um por si e Deus acima de todos?
Por isso o negociado tem limites e o artigo 7º da Constituição Federal, que guarda os direitos trabalhistas, precisa incorporar a redução de jornada. A última ocorreu há 36 anos, na Constituição de 1988, quando caiu de 48 para 44 horas semanais.
Esse debate interessa a todos os trabalhadores e trabalhadores, independentemente se simpatizam com uma visão de mundo progressista ou conservadora, se são de direita ou de esquerda. A questão, tampouco, é ser contra o trabalho. Discute-se apenas que a vida não pode se resumir a ele.
Empresas e governos pelo mundo, inclusive por aqui, vêm adotando a experiência da semana de quatro dias de trabalho, com bons resultados, e muito provavelmente esse é o futuro – se não precarizarmos todos os postos de trabalho até lá. No Brasil, a proposta de emenda à Constituição que visa a revogar o teto de seis dias pode ajudar a alcançar, num primeiro momento, a instituição de uma jornada de cinco. A chiadeira de uma parte do empresariado, da política e da imprensa será gigantesca, claro, mas é um debate inadiável, pois a economia deve servir à qualidade de vida, não o contrário.
Vale lembrar, contudo, que tudo isso ajuda uma parte da equação, mas uma multidão de trabalhadores precarizados, de vendedores ambulantes a entregadores e motoristas de aplicativos, ainda irão à rua de domingo a domingo, em jornadas que ultrapassam as 70 horas semanais, acreditando que o tal artigo 7º da Constituição não diz respeito a eles. A discussão sobre a qualidade de vida não ficará completa sem garantir a eles remuneração justa e um mínimo de proteção.