Proposta contra 6×1 pode não conseguir 4×3, mas abre caminho para o 5×2 

Jornalista Leonardo Sakamoto (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

A campanha contra a jornada de seis dias de trabalho e um de descanso pode não conseguir alcançar agora a mudança para quatro dias de trabalho e três de descanso, mas a mobilização tem força para alterar o teto para cinco dias de trabalho e dois de descanso. Sem redução de salário, claro.

O Brasil vive uma epidemia de burnout, com trabalhadores estafados, fisicamente degradados e psicologicamente desgastados. Com isso, muitos não conseguem recuperar as suas forças no único dia de descanso ao qual tem direito. Que dirá ter vida social, espaço para a família, tempo para formação pessoal ou simplesmente pensar em qualquer coisa que não seja o serviço.

Erra quem pensa que, quando o empregador tem mais tempo do trabalhador à disposição, a geração de riqueza será melhor. A falta de descanso reduz significativamente a produtividade, fazendo com que, não raro, as horas a mais sejam um freio e não um acelerador para as necessidades da empresa, do indivíduo e da sociedade. Cai a qualidade de vida, mas também a do serviço prestado e da mercadoria produzida.

O debate do 6 x 1, durante o governo Lula 3, puxada pelo vereador eleito Rick Azevedo (PSOL-RJ) e pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) atualiza a discussão sobre a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais no Lula 2, encabeçada pelas centrais sindicais, que, na prática, reduziria para cinco dias por semana, considerando que o teto diário é de oito horas.

Há quem defenda que cada categoria chegue à sua redução de jornada através de negociações coletivas. Quando o sindicato é forte, temos bons resultados. Mas e quando não for, o que sugerimos aos trabalhadores, ainda mais depois da Reforma Trabalhista, que enfraqueceu essas instituições? Cada um por si e Deus acima de todos?

Por isso o negociado tem limites e o artigo 7º da Constituição Federal, que guarda os direitos trabalhistas, precisa incorporar a redução de jornada. A última ocorreu há 36 anos, na Constituição de 1988, quando caiu de 48 para 44 horas semanais.

Esse debate interessa a todos os trabalhadores e trabalhadores, independentemente se simpatizam com uma visão de mundo progressista ou conservadora, se são de direita ou de esquerda. A questão, tampouco, é ser contra o trabalho. Discute-se apenas que a vida não pode se resumir a ele.

Empresas e governos pelo mundo, inclusive por aqui, vêm adotando a experiência da semana de quatro dias de trabalho, com bons resultados, e muito provavelmente esse é o futuro – se não precarizarmos todos os postos de trabalho até lá. No Brasil, a proposta de emenda à Constituição que visa a revogar o teto de seis dias pode ajudar a alcançar, num primeiro momento, a instituição de uma jornada de cinco. A chiadeira de uma parte do empresariado, da política e da imprensa será gigantesca, claro, mas é um debate inadiável, pois a economia deve servir à qualidade de vida, não o contrário.

Vale lembrar, contudo, que tudo isso ajuda uma parte da equação, mas uma multidão de trabalhadores precarizados, de vendedores ambulantes a entregadores e motoristas de aplicativos, ainda irão à rua de domingo a domingo, em jornadas que ultrapassam as 70 horas semanais, acreditando que o tal artigo 7º da Constituição não diz respeito a eles. A discussão sobre a qualidade de vida não ficará completa sem garantir a eles remuneração justa e um mínimo de proteção.

-+=
Sair da versão mobile
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.

Strictly Necessary Cookies

Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.

If you disable this cookie, we will not be able to save your preferences. This means that every time you visit this website you will need to enable or disable cookies again.