PUC Campinas reage contra caso de racismo

Por Will Santos*

 

Na noite do dia 21 de maio, estudantes da PUC Campinas protestaram contra o caso de racismo ocorrido contra a estudante Stephanie Ribeiro. A estudante vem sofrendo ameaças e ofensas de alunos e professores que se manifestam pelas redes sociais e nas dependências da universidade. O ato teve início às 19:00 horas, na sexta-feira, percorrendo a área interna da instituição com palavras de ordem contra o racismo: “Não é pessoal é que o racismo é institucional”, “Sou Pró-Unista quero respeito, estudar é um direito” e “ôh Stephanie pode lutar que o racismo tem que acabar”.

Os estudantes percorreram os corredores da universidade passando pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), onde Stephanie estuda, a Faculdade de Economia, o CCHS (Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e Reitoria, os alunos que estavam em salas de aula aderiram ao ato e então o que iniciou com um número médio de 100 adeptos se tornou grande, para a instituição, com o total de 300. Para muitos estudantes o ato teve papel fundamental, pois faz com que a comunidade acadêmica repense o que aconteceu e tomem consciência da reprodução do racismo.

“Este ato é histórico, é difícil esta movimentação, embora muitas pessoas sejam de fora”, afirma aluno.

EXCLUSÃO MASCARADA

As instituições muitas vezes parecem descoladas da realidade. Em um país que a população é em sua grande maioria negra e pobre, a universidade se mostra branca, revela um espaço em que a pele preta só existe na condição de trabalhadores terceirizados (nas cantinas, na limpeza, na segurança) e quando seus filhos pretendem adentrar o espaço sofrem com o descaso criado por uma estrutura mais excludente.

Este slideshow necessita de JavaScript.

O que aconteceu com a estudante infelizmente não é novidade nas universidades públicas e privadas. Diariamente o direito ao ensino superior e técnico é negado, muitas barreiras são colocadas, o ensino público de má qualidade não prepara para a peneira que é o vestibular, a política de cotas está em retrocesso nas universidades do Estado de São Paulo onde preferem fazer concessões cujos critérios, segundo afirmam, são socioeconômico mas na prática deixa de fora a maioria da população pobre e preta, assim o processo que na aparência é democrático e de acesso continua reproduzindo um sistema de privilégios.

Nas instituições particulares, o sistema de bolsas federais ou próprias não criam as condições para evitar a evasão que surge com a falta de políticas de permanência estudantil, desta forma os estudantes da PUC Campinas em específico afirmam que este tipo de descaso também ocorre no local com a falta de repasse dos auxílios aos alunos bolsistas que garantiriam a permanência estudantil, levando muitos a desistirem dos cursos que participavam, Stephanie também é bolsista.

“Vire e meche a gente fica sabendo de casos assim na Universidade. Não adianta falar que não tem, porque tem. Todo mundo sabe”.

Estudantes mais preocupados com o ocorrido organizaram o protesto e afirmam haver racismo constantemente na PUC-Campinas, vários casos se reproduzem por parte da instituição, incluindo alunos e professores.

“O caso de Stephanie é que ela levou pra frente. Denunciou. Os alunos até reclamam na ouvidoria da PUC, mas ela [o órgão] nunca leva pra frente. O que acontece aqui dentro é calado”, afirma estudante.

Stephanie escreveu e publicou um texto denunciando os casos de racismo contra ela, e também de machismo contra outra aluna que foi veiculado no site Blogueiras Negras, com o título: ‘Universidade Opressora não passará, nem calará’. A repercussão foi para além dos muros institucionais.

O clima após o ato, porém é de que possa haver repreensão por parte da Reitoria. Nos dias que antecederam a manifestação a Reitoria lançou uma nota interna indicando que os professores não comentassem o caso ou seriam demitidos. Outros alunos afirmam que o racismo é tão latente que alguns estudantes preferem tratar a atitude da denúncia como “vitimismo” e “exagero”.

Apoiaram o ato – estudantes do Departamentos de Psicologia, Arquitetura, Ciências Humanas, do CA de Medicina, da Universidade de Campinas – Movimentos Sociais e Coletivos: Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, Coletivo Raízes da Liberdade, Domínio Público e Coletivo Rosa e Liberdade

*Willians Santos – Mestrando em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas.

 

 

Fonte: (Socio)lizando

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...