Fonte: UOL Notícias –
Ele é biólogo de formação, planta melões e melancias, fala português e, o que o torna uma exceção no país, é um político negro. Com sotaque de quem nasceu na Guiné-Bissau, Joaquim Crima, 37, está em campanha. Daqui a menos de mês, estará ansioso esperando a contagem dos votos da eleição que ocorre no dia 11 de outubro, na Rússia.
Crima, de 37 anos, está inscrito na disputa por uma vaga na Duma, o Parlamento russo, e, ao mesmo tempo, o posto de administrador de Srednyaya Akhtuba, um distrito da região de Volgogrado. É uma região pobre, de população majoritariamente rural.
Há pouco mais de um mês, tornou-se um caso para a imprensa internacional, que, guardadas as devidas proporções, o viu como o “Obama russo” ou “Obama de Volgogrado”. Volgogrado é o novo nome para a antiga Stalingrado, palco de uma das mais violentas batalhas da 2ª Guerra Mundial.
“Existe a questão racial. Há leis que as pessoas devem cumprir. Acredito que com meu esforço, esse problema há de ser atenuado”, afirmou Crima ao UOL Notícias, assumindo o papel simbólico que sua candidatura adquiriu. Casado com uma armênia, ele concorre como candidato independente, embora esteja filiado ao Partido da Rússia Unida, o mesmo do primeiro-ministro Vladimir Putin. Em russo, adota o nome Vassili Crima.
Segundo diz, é o único candidato de origem africana na região e um dos raros no país. Em reportagem publicada recentemente, a BBC usou o caso de Crima, que anda acompanhado por guarda-costas, para tratar dos ataques frequentes de neonazistas a imigrantes na Rússia. Um estudo publicado recentemente aponta que 60% dos imigrantes africanos que vivem em Moscou foram atacados fisicamente devido a questões raciais. Segundo a BBC, há pouquíssimas chances de que Crima seja o primeiro negro eleito para um cargo público na Rússia.
“A questão começou a andar de uma forma que eu não esperava”, disse. “E já estão a andar para melhor. É tentar desenvolver esta questão.” O slogan usado por Crima, que pode ser traduzido como “Vou trabalhar como um negro pela Rússia”, é, por si só, revelador do racismo no país.
Crima chegou à Rússia como estudante num ano, digamos, tumultuado: 1989 – ano em que caiu o Muro de Berlim e teve início o desmonte do império soviético. Passou pela atual República da Moldávia, na época uma república da União Soviética, antes de se mudar para a região de Volvogrado, onde está há 12 anos.
Em 2000, tentou fazer pós-graduação, mas acabou desistindo, por não contar com meios para manter-se estudando. Foi quando se tornou um agricultor.
Brasil
Embora seja candidato na Rússia, Crima continua bastante preocupado com seu país de origem.
“Gostaria de ser ouvido no Brasil, gostaria de dar umas ideias”, disse. Crima acha que o presidente Lula deveria fortalecer a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, integrada pela Guiné-Bissau.