Qual o sentido filosófico de igualdade na educação que se quer libertadora?

Artigo na revista “Educação e Pesquisa” discute o conceito e o valor da igualdade ao se pensar em uma educação emancipadora

Por Margareth Artur, do  Portal de Revistas USP

Para Paulo Freire, educadores e educadoras devem ser colocar em pé de igualdade e saber escutar educandos e educandas Foto:Kaz/Pixabay.com

O que significa igualdade na relação entre quem se dispõe a ensinar e quem se dispõe a aprender? A questão é discutida em artigo publicado na revista Educação e Pesquisa. A partir da frase do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), “Ninguém é superior a ninguém”, o texto apresenta um enfoque filosófico da palavra “igualdade”, exposta pelo educador como “condição de uma educação libertadora para a qual aceitar e respeitar a diferença”. O conceito de igualdade de Freire é comparado com o do pensador francês Joseph Jacotot (1770-1840), que enfatizava “a igualdade intelectual dos seres humanos como princípio de uma educação emancipadora, do povo”.

De acordo com o artigo, Freire ressaltava “a importância de educadores e educadoras se colocarem em pé de igualdade e saber escutar educandos e educandas” com respeito, tolerância, disponibilidade à mudança e, sobretudo, humildade, “como virtude pedagógica”, o que seria uma exigência para uma educação emancipadora. Freire, cujo conceito de igualdade está implícito em sua afirmação “ninguém é superior a ninguém”, entendia a igualdade como princípio, como natureza, como realidade e como existência.

Sobre a questão da emancipação na educação, o texto apresenta o conceito de Jacotot, que no século 19 defendeu “a igualdade intelectual dos seres humanos como princípio de uma educação emancipadora, do povo”. Para o pensador francês, a emancipação intelectual e individual é baseada no princípio da igualdade das inteligências. Freire, no entanto, entende a igualdade como emancipação social e como conscientização.

Nesse contexto, o artigo afirma que o filósofo francês Jacques Rancière (1940), no livro O mestre ignorante (publicado em 2004), enfatizou que Freire e Jacotot estavam preocupados com o compromisso político, com a “emancipação/libertação do povo”, a favor de uma pedagogia “a favor dos excluídos e excluídas”. No que se refere às diferenças, Jacotot afirma que a igualdade é impossível de ser institucionalizada ou propagada como forma de emancipação social, ao contrário de Freire, que afirma ser importante não esquecer da igualdade como condição social necessária da diferença.

A igualdade precisa estar na vida, dentro e fora da escola, pois o educador ensina, mas também aprende com os alunos. O artigo destaca que a igualdade é parte de “uma prática educacional como seu princípio político é uma condição para que as diferenças sejam enriquecedoras e não aniquiladoras”, o que determina a verdadeira contribuição da educação.

Segundo o autor do artigo, Freire propôs a aplicação de um método de alfabetização cujo objetivo principal é o de estimular os(as) alunos(as) a refletirem sobre a realidade vivida. O educador defendia um “saber libertador” que reflita a realidade do(a) aluno(a), no respeito às experiências e realidades diferentes de cada um.

Artigo
KOHAN, W. Paulo Freire e o valor da igualdade em educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 45, n. e201600, p. 1-19, 2019. ISSN: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945201600. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/157832. Acesso em: 18 maio 2019.

Contato
Walter Omar Kohan – Professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e cientista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
[email protected]

Margareth Artur / Portal de Revistas USP

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