Quando soube da microcefalia, grávida de 18 anos foi abandonada pelo marido

O diagnóstico de microcefalia foi a sentença de morte para o casamento de Yanca Mikaelle de Lima, 18 anos. Ela lembra que o marido e toda a família dele começaram a se afastar quando um ultrassom no sétimo mês de gravidez detectou o problema. Na semana seguinte, a gestante e o outro filho do casal estavam de volta à casa da mãe dela.

Por Felipe Pereira, do UOL

Como previsto pelos médicos, Sofya Emanuelle de Lima nasceu com microcefalia na maternidade de Campina Grande, Paraíba, em 31 de janeiro. Yanca recorda que teve zika no terceiro mês de gravidez e os sintomas foram leves, manchas vermelhas durante um dia. Isto foi em outubro, e o surto de microcefalia ainda não era conhecido.

Aos sete meses de gravidez, Yanca precisou ser internada porque Sofya parecia querer nascer antes da hora. Os médicos aproveitaram para fazer o ultrassom e o comportamento do marido mudou. Àquela altura, no começo de dezembro, havia pouca informação sobre a vírus da zika entre a população. A própria Yanca conta que não tinha ideia do que significava o perímetro cefálico ter menos de 32 centímetros.

Ela acredita que o ex-marido e a família imaginaram ser algo bastante grave e que provocasse sequelas severas, por isso mudaram o comportamento. Naquele começo de dezembro, a grávida percebeu que seria melhor cuidada voltando para a casa da mãe. Não houve resistência, conta. Procurado, o ex-marido não quis conversar com a reportagem do UOL.

Princesa, apelido que Sofya ganhou desde a descoberta da gravidez, perdeu o trono na família do pai. Yanca diz que o ex-marido vai visitá-la apenas para buscar o filho de um ano e noves meses que tiveram juntos. Quanto à menina, dá uma rápida olhada e logo vai embora. Mas ela ainda aceitaria voltar com o marido.

“É difícil. A gente tem dois filhos, ainda gosto muito dele, mas num tá tendo atitude de pai de verdade”.

O apoio de pai seria fundamental para o momento que Yanca atravessa. Na última sexta-feira (12),  enrolada em um cobertor com a palavra “princesa” escrita, Sofya passou por avaliação no ambulatório destinado aos bebês com microcefalia do Hospital Municipal Pedro I. Ela terá de fazer fisioterapia três vezes por semana.

Madrugar, pegar ônibus com um recém-nascido e voltar no calor do sertão paraibano não é fácil. A avó de Sofya vai junto, ajudando a carregar os apetrechos de criança. Bom para Yanca e péssimo para as finanças da família. Somente o pai-avô trabalha, e fica pesado para um pedreiro sustentar cinco filhos, incluindo a recém-chegada Yanca, mais dois netos. Os R$ 132 gastos em passagem fazem falta.

O acesso ao tratamento é complicado, mas Yanca nem pensa em desistir porque sabe a diferença que faz no desenvolvimento da filha. A fisioterapeuta Jeime Leal está 100% de acordo. Ela explica que as sessões são a diferença entre ter a máxima qualidade de vida possível ou uma vida com sequelas.

Jeime explica que, sem o tratamento, todas as fases de desenvolvimento, como rolar, sentar, engatinhar e andar, acontecem mais tarde. Existe a possibilidade de algumas sequer serem alcançadas. Yanca sabe disso, mas desistir não é uma opção. Até porque ela acredita que Sofya terá uma vida, senão normal, muito perto disso.

“Imagino ela estudando e brincando com as outras crianças”.

Deixar de ir à fisioterapia é tirar isto da própria filha, algo inconcebível para Yanca. A mãe faz tudo que está ao alcance por temer o que não depende de suas forças: Sofya sofrer preconceito no futuro.

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