Durante a primeira ronda de votação decorrida nesta quarta-feira (17.06), nenhum dos dois conseguiu o mínimo de dois terços dos votos, ou seja, no mínimo 128 votos em casos de participação dos 193 membros das Nações Unidas.
Em fevereiro, a União Africana (UA) indicou o Quénia para ser representante de África no Conselho de Segurança em votação secreta. Através de uma nota de protesto Djibuti exigia que a União Africana reconsiderasse a sua posição de indicar o Quénia, alegando ser inadmissível e contra as regras do organismo.
Os membros da União Africana justificaram que queriam evitar que a África tivesse três países francófonos no Conselho de Segurança em 2021, com a adesão do Níger e da Tunísia. Mesmo assim, Djibuti recusou-se a retirar a sua candidatura.
Interesses geopolíticos na origem da disputa?
Roba Sharamo, diretor do Instituto de Estudos de Segurança em Adis Abeba, Etiópia, suspeita que interesses geopolíticos possam estar a alimentar essa disputa.
“Há muitas histórias, talvez Djibuti esteja a ser empurrado por potências externas. Havia suspeitas de que talvez alguns países de língua francesa estivessem por detrás disso, mas agora torna-se cada vez mais claro que a China está a empurrar o Djibuti”, entende Sharamo.
Com esta disputa entre o bloco francófono e anglófono, é a imagem do continente africano que fica mal na fotografia, considera o analista político, o queniano Martin Oloo.
“A União Africana quis incentivar apenas um país a candidatar-se. O facto de termos agora dois países explica a grande divisão entre o Ocidente e o Oriente. E, neste caso específico, o Ocidente é suscetível de apoiar o Quénia e o Oriente é suscetível de apoiar o Djibuti”, acredita Oloo.
China apoia os dois?
Entretanto, os dois países afirmam que as suas candidaturas estão a ser apoiadas pela China. Mas que papel Quénia ou Djibuti poderiam desempenhar no Conselho de Segurança?
Roba Sharamo responde: “Penso que o continente africano é um ator importante no mundo e é, ao mesmo tempo, o continente que acolhe muitas missões de manutenção da paz, e isso exige alguma voz a esse nível. Penso que é tempo de ter um país africano como membro permanente do CS da ONU, à medida que o mundo se torna cada vez mais interdependente”
As eleições de quarta-feira (17.06) na ONU contemplaram também a presidência da Assembleia Geral, que a partir de setembro pertencerá ao turco Volkan Bozkir.
Também foram escolhidos quatro membros não permanentes para o Conselho de Segurança, faltando um lugar para os estados africanos. Assim, A Índia, Irlanda, México e Noruega passam a fazer parte do Conselho de Segurança da ONU no início do próximo ano, com um mandato de dois anos.