Desculpe a inconveniência. Interromper a sua aula não foi a intenção, nem tampouco gastar alguns minutos do seu precioso tempo. Na verdade pouco me interesso pelos dois – você e seu tempo. Estamos mais preocupados em criar um ambiente de aula mais inclusivo e menos racista. Como você demonstrou pouco interessado nisso, ficamos quites. #flw #vlw
Por Leopoldo Duarte, do Revista Fórum
Pelo que pudemos ver no seu vídeo – que zerou a timeline negra do meu Facebook, diga-se de passagem -, um grupo de militantes do movimento negro se uniu para debater racismo com alunos durante uma aula na USP. Felizmente, no caso, a sua aula de microeconomia. Porque se não fosse por você, não teríamos essenada feliz exemplo, bastante recente e ilustrativo, da ignorância e descaso brancos no circuito universitário.
Também através do vídeo, ficamos sabendo que a sua branca professora – aquela numa aula anterior liberou a turma duas horas antes do previsto – encontrou dificuldades para ceder os 20 minutos solicitados pelo coletivo negro. O que não fica muito claro é se esse tipo de atitude, sua e dela, foram os motivos pela intervenção que tanto te desagradou. #coincidência
Essa recusa dos dois, deixa bem escuro que por vocês o racismo que levou parte do corpo discente a contestá-lo devia ter hora marcada para ser desconstruído. Talvez porque vocês se imaginem superiores a essa ideologia de quase meio milênio. Um preconceito que não somente justificou a barbárie da escravidão como se faz presente nos atuais livros de história, nas cadeias, nas novelas, nos programas de humor, nos comentários de redes sociais etc.
Não se preocupe, eu ouvi muito bem quando você disse que apesar de na sua estimada escola particular negros terem sido escassos, de você eles nunca receberam racismo. Pelo ouvido, eles tampouco receberam sua ajuda ou solidariedade. Mas tudo bem, eu entendo. É difícil se compadecer de uma dor que desconhecemos. Você pode até acreditar que manja dos paranauê de ser não-racista, mas te desafio a definir racismo melhor que uma criança do sexto ano. Com exemplos atuais e tudo. Difícil, né? Você pode até usar o Google, mas ainda assim não terá como você reverter a sua acusação de vitimismo.
Olhar na cara de alguém, ou de um grupo, que reuniu ânimo para compartilhar do que sofrem e dizer que tudo não passa de vontade de se fazer de vítima é de uma estupidez brutal. Geralmente eu encerro qualquer discussão quando esse termo é empregado com tom de seriedade. Contudo, deu pra notar que você não faz ideia de como rebater uma acusação de preconceito com esse argumento só serve para reforçar a necessidade do combate. Não é porque a dor de alguém não faz sentido pra você que ela não existe ou não seja válida. Questionar ou menosprezar o sofrimento alheio só porque você não o sente beira a psicopatia. É devido a essa falta de empatia que somos capazes de escravizar, torturar, discriminar, … Você acha que não reproduz racismo, mas a sua indiferença comprova exatamente o contrário. Só pra constar, se martirizar porque preferia assistir aula não contribui muito para o esse argumento.
Você acha que sabe tudo, mas demonstrou que não sabe de nada. O racismo não para só porque você sabe que chamar alguém de macaco é errado. Em caso de dúvida busque as estatísticas criminais, salariais ou simplesmente se pergunte porque metade da população não ocupa os mesmos lugares que o seu papai batalhou com orgulho. Ou simplesmente me diga uma vantagem/benefício exclusiva ou majoritária da população negra.
Aceite isso: racismo não é algo que você compreenderá em sua totalidade, no máximo você entenderá, se estiver disposto a ouvir, observar e questionar junto a negros dispostos a te explicar. Então, na próxima oportunidade dessa, se faça um favor e não dê atestado de racista babaca. Também vale ressaltar que não existe momento apropriado para discutir racismo. Acredite, se nós falamos é porque a necessidade surgiu. #fikdik