‘Racismo é construção política’, diz historiador sobre cultura brasileira

Luiz Claudio Dias e Tâmis Parron protagonizaram segundo debate da Flica.
‘Etnias, resistências e mitos’ foi o tema da mesa na manhã desta quinta (15).

Por Juliana Almirante, do G1

Os historiadores Luiz Claudio Dias Nascimento, de Cachoeira, e Tâmis Parron, de São Paulo, protagonizaram uma discussão sobre racismo e escravidão no Brasil no segundo debate da Festa Literária de Cachoeira, nesta quinta-feira (15). A mesa “Etnias, resistências e mitos” foi mediada pelo curador do evento, Aurélio Schommer, no segundo dia da festa, que ocorre na cidade do Recôncavo Baiano até o domingo (18).

“Existem estados que não são nações e a gente tem problemas sérios de identidade no Brasil. Hoje a gente aceita de forma ostensiva a existência do racismo no Brasil. (…) Racismo é uma construção política. Ninguém nasce racista, racismo se constrói politicamente”, defendeu Luiz Cláudio, que é estudioso das áreas de etnicidade e cultura afro-brasileira.

Tâmis avaliou que, com a abolição da escravidão, se instituiu no país uma definição de cidadania que passou a não considerar a cor da pele. “No Brasil, todo aquele que tinha carta de alforria, negro, mulato ou mestiço, tinha que ser considerado cidadão. Essa foi a primeira definição que não passa pela cor da pele. Basta ser livre para ser cidadão, essa foi a primeira definição ‘desracializada’ no Ocidente”, diz o historiador.

Ao ser questionado pelo mediador sobre a possibilidade de falar sobre o racismo não sendo negro, o pesquisador paulista, de pele branca, defendeu que nunca “racializou” a própria identidade. “Um dos meus bisavós é negro. Já faz tempo. No entanto, nunca digo isso a ninguém porque minha identidade não se construiu do ponto de vista racial. Eu falo sobre negro e escravo, assim como acho que negro não tem que falar só sobre negro. Quando você fala só sobre você, você deixa metade do mundo fora de sua análise”, defendeu.

No debate, os historiadores destacaram o papel da cidade de Cachoeira nas revoltas escravistas no país. “Cachoeira se destaca porque é povoada já urbanamente, por ser uma área portuária, já era povoada por africanos de diversas etnicidades”, informou Luiz Cláudio.

Ele lembrou que as revoltas escravas ocorreram no Recôncavo, também nas cidades de São Francisco do Conde e Santo Amaro, na primeira metade do século 19. “As revoltas escravas no Recôncavo Baiano entre 1816 e 1985 tiveram impacto gigantesco sobre nós que estamos aqui agora. Isso porque esse ciclo de revoltas pode ter revolucionado a forma como se definiu cidadania no Brasil”, completou Tâmis.

 

(Foto: Juliana Almirante/ G1 BA)

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