Racismo não é brincadeira, diz ativista do Borel

Mônica Francisco escreveu artigo para o Jornal do Brasil criticando a esposa do gerente do restaurante Garota da Tijuca preso por racismo, que defendeu o ato de seu marido de oferecer bananas aos entregadores no Dia da Consciência Negra como sendo apenas uma “brincadeira”: “A questão é que ainda continuamos negando ou dando o título de ‘brincadeira’ a um dos maiores males de nossa sociedade, o racismo. Considerado pela consulesa da França, Alexandra Loras, um dos sistemas mais perversos do mundo em relação ao racismo, os mecanismos refinados dessa máquina de aniquilar negros e negras em todas as áreas mostra como a sociedade brasileira é eficaz na dissimulação e invisibilização desta prática”

Por *Mônica Francisco, no Brasil 247

As bananas e a luta diária contra o racismo

A esposa do gerente demitido do restaurante Garota da Tijuca, estabelecimento que vem sendo alvo de campanhas de boicote desde o momento em que foi tornado público o ato criminoso cometido por seu funcionário, ao oferecer bananas a dois entregadores negros e em extensão, a todos da mesma raça segundo ele, em comemoração do Dia da Consciência Negra, diz que o que ele fez foi uma “brincadeira”.

A questão é que ainda continuamos negando ou dando o título de “brincadeira” a um dos maiores males de nossa sociedade, o racismo. Considerado pela consulesa da França, Alexandra Loras, um dos sistemas mais perversos do mundo em relação ao racismo, os mecanismos refinados dessa máquina de aniquilar negros e negras em todas as áreas mostra como a sociedade brasileira é eficaz na dissimulação e invisibilização desta prática.

Mais do que isso, faz com que práticas tão abjetas como as estimuladas pelo preconceito racial, sejam mascaradas pela verve espirituosa do brasileiro, que adora fazer piada de tudo e é considerado o povo mais “alegre’ da terra. Conclusão, temos das mais hediondas tragédias ambientais produzidas pela ganância dos setores econômicos, passando pelo assassinato de crianças por profissionais de segurança pública, escarnecimento de atrizes e profissionais de televisão negras a piadas com cidadãos negros, colocadas em um balaio só.

Todos colocados no cesto do sem querer, da brincadeira, da fatalidade e do não é bem assim. Se não fizermos um tratado urgente em torno do assunto, que vitima de maneira real e subjetiva milhares de pessoas, seja em forma de racismo institucional ou o de fato, dado no cotidiano das relações reais, estaremos perdidos.

A brincadeira do racismo que não temos e que não praticamos, vem produzindo territórios militarizados de controle de civis pobres em nome da tranquilidade das áreas médias da cidade, deslocamentos forçados em nome de um desenvolvimento excludente e a total invisibilização de toda uma população nos meios de comunicação ou quando presentes, extremamente sub-representados ou representados em situações vexatórias, caricatas e subalternas.

Aquilo que não praticamos, porque não existe, nos dá o 4º lugar no ranking da população carcerária no mundo, fazendo com que 70% dos negros ou pretos e pardos estejam encarcerados e só 10% nas universidades.

Não dá para manter a condescendência. É necessário ser contundente contra o maior mal desse país, que joga metade da sua população em uma trama perversa e desgastante de luta por sua sobrevivência e dignidade diariamente. Parabéns Willian Dias Delfim e Osmar Ribeiro, parabéns Taís Araújo e Aranha, parabéns a todos os pretos e pretas, e todos aqueles e aquelas que lutam por respeito todos os dias.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!”
*Mônica Francisco é membro da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e consultora na ONG ASPLANDE.

 

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