Rene Silva, considerado um dos negros mais influentes do mundo, sofre ofensa racista

“Falta às pessoas saírem da sua bolha e se permitir descobrir o mundo que existe fora de tudo que cerca sua vida. Minha preocupação maior é com as próximas gerações”, afirmou

Por Thais Prado, da Revista Fórum 

Foto: Reprodução/Facebook

O ativista carioca Rene Silva, que ficou conhecido por seu engajamento em causas sociais e por ter sido considerado um dos 100 negros, com menos de 40 anos, mais influentes do mundo, foi vítima de ataque racista, na manhã desta sexta-feira (10). Ele estava no Aeroporto Santos Dumont, na Zona Sul do Rio de Janeiro, se preparando para ir a Belo Horizonte.

Ao embarcar, uma mulher fez comentários racistas em direção a uma amiga: “Ela começou a dizer que ‘tá uma bagunça mesmo o Brasil… Porque antigamente isso aqui era coisa pra gente chique e que hoje em dia qualquer um tá voando’. Apontando com os olhos para sua vizinha de poltrona chique, ela ainda solta ‘olha o tipo de gente que anda de avião!’”, se dirigindo a ele.

Em contato com a Fórum, Rene, que é responsável pelo site “Voz das Comunidades”, mostrou sua indignação: “Falta às pessoas saírem da sua bolha e se permitir descobrir o mundo que existe fora de tudo que cerca sua vida. Minha preocupação maior é com as próximas gerações. E o filho dessa senhora? O neto? Será que vão ser diferentes ou estão recebendo os ensinamentos dela? Isso me preocupa muito mais do que a atitude dela”.

Para Rene, 24 anos, existe uma geração mais velha, da alta sociedade, que é “estupidamente preconceituosa”. “Não só com negros, mas nordestinos e favelados também.  Falta às empresas colocarem mais negros nos comerciais, sendo protagonistas de diversos cenários. Já andei por vários países neste mundo e só consigo perceber o quanto somos atrasados aqui no Brasil. O pior racista e preconceituoso é aquele que diz: ‘Isso é tudo mínimo’ ou a famosa frase ‘Agora tudo é racismo pra vocês’. Esse é bem difícil é só vai aprender se voltar para a sala de aula”.

Sem reação

O ativista destacou que ficou sem reação na hora e, por isso, não relatou à companhia aérea o ocorrido. No entanto, ficou pensando no fato durante todo o voo. “Émuito difícil lidar com essas situações, porque já está no nosso cotidiano, infelizmente. Mas não podemos nos acomodar. Temos que nos manifestar através das nossas redes”, protesta.

Rene relembra outro caso em que foi vítima de racismo. “Outro dia entrei no metrô, na estação Uruguaiana, e percebi que tinha muita gente ali por conta do jogo que ia acontecer no Maracanã. De repente, reparei que um senhor, que estava com dois adolescentes, que pareciam ser seus filhos, resolveu se afastar quando eu cheguei pra segurar em um daqueles suportes de mão. Ele cochichou com um dos jovens e apontou com os olhos, da mesma maneira que fez esta senhora no aeroporto, e ficou me olhando o tempo inteiro. Eu estava com uma blusa escrito ‘Sou favela’”.

 

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