Resistências epistemológicas feministas: subjetivações emergentes como estéticas do existir

Introdução

Parece que não há lugar para o novo. Parece que todas as respostas já foram dadas, sobretudo as que dizem respeito aos modos de agir, pensar e sentir. Os regimes normalizadores hegemônicos balizam não apenas os lugares, mas também as formas de movimentar-se nos espaços, compondo repertórios codificados de onde e como devemos estar. Colocar-se diante do desafio de questionar essas delimitações passa pela avaliação contínua das próprias subjetividades, buscando a abertura de outros contornos para a vida e para a prática da liberdade.

Por Jenniffer Simpson, do eces

Olhar para essa realidade é ir além da mera ênfase nas relações assimétricas de poder, mormente no quadro da procura de direitos e justiça; é, sobretudo, apreender fatos e processos diferentes dos que são habitualmente oferecidos como único caminho de aspirar à justiça. Trata-se de considerar a dimensão ética e estética dessa luta, a quem não basta reivindicar visibilidade – é preciso também questionar que tipo de visibilidade queremos (Miskolci, 2007).

Essa questão passa pela redefinição da relação saber-poder-si que gera a reestruturação de possibilidades epistêmicas e subjetivas consideradas emergentes na dimensão feminina dentro do contexto biopolítico contemporâneo.

Para refletir acerca dessa problemática, estabeleço um diálogo com os conceitos foucaultianos relativos à ética, resistência, subjetividade e estética do existir à luz de estudiosas do feminismo como Eleonora Oliveira, Donna Haraway, Joan Scott, Lila Abu-Lughod, Margareth Rago, Maria Irene Ramalho, Sandra Harding, Sueli Carneiro e Virgínia Vargas. O intuito é acentuar a emergência da inventividade ao questionarmos o pensamento e os modos de subjetivações na reivindicação de direitos.

Na primeira parte deste artigo, faço uma breve incursão nos conceitos fundamentais acerca da ética foucaultiana: o conceito de moral, diferenciando ocódigo moral da moralidade, e o conceito de ética como forma relacional, bem como seus quatro aspectos constituintes. Tal noção de ética tem como condição ontológica o exercício da liberdade, agregada ao problema da subjetividade, culminando no cuidado de si e na estética da existência como prática de resistência.

Na segunda parte, discorro acerca dos processos de subjetivações emergentes, ancorando-me em teorias pós-coloniais em relação dialógica com os estudos feministas, destacando aspectos invisibilizados e contraditórios instituídos pelas narrativas dominantes.

Na terceira parte, debruço-me sobre as questões epistemológicas e subjetivas da teoria crítica feminista que não apenas buscam resistir às técnicas de controle androcêntricas, mas que procuram, principalmente, pensar para além da hegemonia masculina, criando outro direito relacional que se expressa a partir de seu próprio perspectivismo. Tento demonstrar que essas discussões entram em consonância com o pensamento foucaultiano, desenvolvido especialmente nos seus últimos livros (História da sexualidade II e III e Hermenêutica do sujeito). Esta proposta está atrelada mais especificamente ao conceito deestética da existência, que perpassa o conceito de resistência como prática crítica das experiências nas relações de poder.

Continue lendo aqui 

+ sobre o tema

Sarney e Maia destacaram a presença de uma mulher na Mesa diretora

A cerimônia que deu início aos trabalhos legislativos da...

Justiça de MT autoriza aborto de feto anencéfalo em Lucas do Rio Verde

"Obrigar uma mulher a manter durante nove meses a...

Gênero nos espaços públicos e privados

O estudo "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços públicos...

Thorning-Schmidt é nomeada primeira-ministra da Dinamarca

A líder dos social-democratas dinamarqueses, Helle Thorning-Schmidt, foi oficialmente...

para lembrar

Sessão extraordinária na Câmara vai colocar em votação 7 projetos de Marielle

Na próxima quarta-feira (2) será realizada uma sessão extraordinária...

#GeledésnoDebate: “Não houve respaldo legal para a esterilização de Janaína”

#SomostodasJanaína# Por Kátia Mello Janaína Aparecida Quirino, 36 anos, moradora em...

Governo defende liberar aborto

Programa federal retoma polêmica e recomenda ao Congresso descriminalizar...
spot_imgspot_img

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...

Escolhas desiguais e o papel dos modelos sociais

Modelos femininos em áreas dominadas por homens afetam as escolhas das mulheres? Um estudo realizado em uma universidade americana procurou fornecer suporte empírico para...
-+=