A respeito de Lima Barreto

É um daqueles espetáculos difíceis de definir e que incomodam o espectador – o que não é (nem um pouco) ruim. Mas o certo é que Traga-me a cabeça de Lima Barreto, exibido na quarta-feira passada no Theatro São Pedro, marcou, de forma certeira, o início das atividades da FestiPOA Literária, que acontece agora em maio na Capital.

Por Cristiano Vieira Do Jornal do Comércio

O escritor Lima Barreto será homenageado na Flip 2017 – (Foto: reprodução/ O Globo)

A performance arrebatadora do ator Hilton Cobra como Lima Barreto hipnotizou a plateia. Nem mesmo os insistentes e incômodos aparelhos celulares, com suas luzes piscantes, apareceram desta vez (ainda bem!). O espetáculo parte de uma hipotética autópsia da cabeça de Lima Barreto com o propósito de investigar como um autor negro (e de raça supostamente inferior) realizou, em vida, obras memoráveis como O triste fim de Policarpo Quaresma.

Pelos termos da infame teoria da eugenia, apenas pessoas claras, puras, têm inteligência capaz para tal tarefa. Aos negros, aos diferentes, a simples biologia e a cor da pele são suficientes para atestar a inferioridade.

O ator, enquanto personifica Barreto, mostra à plateia quão absurdas são essas ideias. Hilton Cobra examina a podridão que se esconde nas opiniões de hoje – o racismo velado, que subjuga as pessoas pela cor da pele. É triste, choca ler no telão o veneno do preconceito destilado por cientistas no início do século XX. Triste, mais ainda, porque, 100 anos depois, pouco mudou.

+ sobre o tema

Revista Pode Crê! Memória institucional

Revista Pode Crê! Memória institucional Esta revista foi pensada inicialmente...

Crítica: Kendrick Lamar mira alto e acerta nos alvos em ‘DAMN.’

Rapper critica racismo e fama em seu disco mais...

para lembrar

Cristiele França, a radialista que leva o candomblé e os orixás para o cotidiano de Salvador

No Candomblé, Exú é responsável pela comunicação. O mais...

Museu Whitney recorre a acervo para contar história do ativismo nos EUA

Instituição em Nova York exibe obras sobre protestos raciais,...

Lima Barreto: um gênio negro e o reconhecimento tardio – Por Davi Nunes

  Por Davi Nunes Do Portal Sotero Preta No próximo ano, 2017,...

A “Onda Negra”: arte visual afro-brasileira, legitimação e circulação

Alecsandra M. de Oliveira é dra. em Artes Visuais...
spot_imgspot_img

Casa onde viveu Lélia Gonzalez recebe placa em sua homenagem

Neste sábado (30), a prefeitura do Rio de Janeiro e o Projeto Negro Muro lançam projeto relacionado à cultura da população negra. Imóveis de...

No Maranhão, o Bumba meu boi é brincadeira afro-indígena

O Bumba Meu Boi é uma das expressões culturais populares brasileiras mais conhecidas no território nacional. No Maranhão, esta manifestação cultural ganha grandes proporções...

100 anos sem Lima Barreto: a luta ainda continua em 2022?

O que o legado de Lima Barreto tem a nos dizer na semana em que Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil pela...
-+=