A revolução dos cachos infantis: uma lição de amor e resistência

No Dia da Mulher, mães abrem o coração sobre a maternidade negra em relatos emocionantes e dão dicas para valorizar o cabelo afro.

Tipos de cabelos cacheados

Os cachos são classificados de acordo com suas características:

Tipo 2 – ondulado

2A: raiz lisa e ondas suaves, bem próximo do cabelo liso.
2B: um pouco mais definido do que o 2A, mas ainda com pouco volume.
2C: começa a formar ondas marcantes mais próximas da raiz e é mais cheio.

Tipo 3 – cacheados

3A: cachos abertos definidos da raiz às pontas e fios volumosos, costuma ficar com frizz em dias de chuva.
3B: cachos bem definidos e menores, como molinhas, que tendem a ficar ressecado nas pontas.
3C: muitos cachos pequeninos, que formam volume e fios mais grossos.

Tipo 4 – crespos ou afros

4A: cachos estreitos e fios grossos, formam um S quando esticados.
4B: os cachos têm formato de “z” e encolhem bastante de tamanho.
4C: os fios são grossos e o cachos quase imperceptíveis. Esse tipo de cabelo é mais seco naturalmente.

Ensinamentos do passado

Histórias como a de Aliya são uma constante para as mães de meninas negras. Mesmo assim, houve um tempo em que o cenário era ainda pior. “Quando eu era mais nova não se aceitava cabelo afro, nem eu me aceitava”, conta Carla Cavallieri, 33 anos, mãe de três meninas: Ágatha, de 11, Aisha, de 4, e Akillah, de 9 meses.

Henê, bobes, brow, pente quente, relaxamento afro… São inúmeras as técnicas agressivas utilizadas no passado – algumas até hoje – para alisar ou reduzir o volume dos fios. “Isso detonava o cabelo e acabava com a nossa autoestima. Com uns 12 anos, minha mãe foi obrigada a cortar o meu bem curto, pois estava muito danificado”, relembra Priscilla.

“Eu olho as fotos daquela época e não estou sorrindo em nenhuma, me odiava muito”, completa a mãe de Aliya, que há nove anos passou pela transição capilar. “Nossas mães não faziam por mal, mas foi imposto para elas culturalmente que o cabelo afro não era aceito”, explica Carla, que voltou ao seu cabelo natural – que ela nem lembrava mais como era – aos 26 anos de idade.

“São lembranças de muita dor e tristeza”, resume Priscilla. A experiência negativa de ontem virou aprendizado para hoje. E as coisas, felizmente, evoluíram. “Hoje eu posso criar minhas filhas com cabelo crespo. Elas vão desde cedo se amar, se reconhecer, não vão passar pelo mesmo processo que eu passei”, comemora Carla.

A mãe é, como sempre, espelho. “A relação da minha filha com o cabelo foi totalmente diferente, porque ela já nasceu com uma mãe com o cabelo natural”, concorda Priscilla. Mesmo assim, há altos e baixos.

“A família do pai da Ágatha é branca de cabelo liso, então ela queria muito ter o cabelo liso quando era menor. Mas não alisamos e hoje, com 11 anos, ela é tão militante como eu e já fez meninas da idade dela terem vontade de voltar ao cabelo natural”, relata Carla.

Carla Cavallieri no centro, a filha Ágatha à direita, Akillah com a chupeta, o marido Samuel e Aisha de rosa.  (Carla Cavallieri/Arquivo Pessoal)

Texturas diferentes

Renata Germano, de 31 anos, tem a pele branca, os fios lisos e é casada com um homem negro. A filha, Rafaella, hoje com 6 anos e lindos cachos 3B na cabeça, nasceu em Moçambique, na África, enquanto os pais, missionários, trabalhavam lá.

“Tive dificuldades no início porque não sabia lidar com o cabelo dela, então pesquisei bastante”, conta a mãe, que, ao ter uma filha negra, passou também por um processo de descoberta. “A minha infância foi muito diferente da dela, pois o cabelo liso é aceito. Mas antes de ter a Rafaella eu não entendia isso”.

Há alguns anos, a pequena foi vítima de racismo na van escolar, relato compartilhado aqui no Bebê.com.br. “Ela normalmente é a única negra na escola e entre os amigos, então tento enaltecer a todo momento a negritude dela e inserir a temática negra em sua vida”, conta Renata. “Hoje ela tem muito orgulho do cabelo, da cor e, principalmente, de ser africana”, comemora.

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