Ronaldinho Gaúcho redescobre o amor perdido pelo futebol

Há oito anos, nesta época, apenas três homens pareciam acreditar que Ronaldo de Lima tinha a capacidade de ser decisivo na conquista da Copa do Mundo pelo Brasil.

Seus joelhos estavam lesionados, e temia-se por sua carreira. Contudo, o cirurgião de Ronaldo acreditou, o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, acreditou e, acima de tudo, Ronaldo acreditou. Após uma temporada na qual mal jogou para o Real Madrid, ele voltou para vencer a Copa do Mundo como o maior goleador do torneio em mais de 30 anos.

  • O jogador brasileiro Ronaldinho Gaúcho comemora um de seus dois gols contra a Juventus, na vitória por 3X0, em partida do Campeonato Italiano no último dia 10 de janeiro. O jogador deu dribles desconcertantes e passes certeiros aos jogadores da equipe e fez a alegria a torcida do Milan e de todos os que torcem pelo sucesso do ex número 1 do mundo

Um jovem jogador naquela seleção, Ronaldinho Gaúcho, de certa forma é o Ronaldo de hoje. Não é o mesmo tipo de jogador e não sofreu o mesmo trauma físico, mas seu retorno ainda assim é comovente.

Há dois anos, quando o Barcelona o deixou, Ronaldinho parecia ter perdido a vontade de jogar tudo o que sabia. Ele parecia estar quebrado em sua alma, como Ronaldo estivera no corpo.

O AC Milan tirou-o do Barcelona, mas era difícil acreditar que poderia haver um rejuvenescimento genuíno da alegria, da espontaneidade e do desempenho que Ronaldinho um dia apresentara.

Não era questão de idade. Ele ainda não tinha 30 anos. Como ele diz, parecia ter perdido o amor ao futebol.

Agora, enquanto o Milan se prepara para enfrentar seu vizinho Inter, no domingo, Ronaldinho tem a aparência de antes, fala e joga como antes. Ele marcou três gols no último domingo, fazendo um total de seis gols em três jogos. Contudo, Ronaldinho sempre foi mais do que um bom goleador, e voltou a criar lances para os outros, gerando momentos que desafiam a imaginação.

Estão de volta a impudência de suas jogadas, os saltos acrobáticos, a capacidade surreal de escolher um colega e fazer um passe que comanda o movimento daquele jogador, além do sorriso dentuço que é sua marca.

“Sempre assisto o Milan”, disse um fã nesta semana. “Só vejo o Ronaldinho. Ele é um dos maiores jogadores que já vi, e espero vê-lo aqui na África do Sul.” O fã, Diego Maradona, está no país da Copa para escolher uma base para a seleção da Argentina para a Copa do Mundo deste ano. “Minha Argentina não é favorita da Copa”, disse Maradona aos repórteres ao chegar. “Os candidatos são sempre os mesmos: Brasil, Itália, Alemanha e Espanha. Mesmo que Ronaldinho não jogue neste Mundial, ainda assim vou considerá-lo um dos melhores de todos os tempos.”

Talvez ainda jogue, apesar de ter uma tarefa como a de Ronaldo diante dele para convencer o técnico de sua equipe que voltou para valer.

Antes da última Copa, na Alemanha em 2006, Ronaldinho imperava no Barça, um gênio guiando seu aprendiz, Lionel Messi, para as alturas que desafiavam a expectativa e às vezes redefiniam a física do futebol.

Houve semanas, meses inteiros de jogos nos quais Ronaldinho inventava um truque a cada semana. Ele o fazia pela diversão e por ousar obedecer ao instinto dentro dele.

Ele o fazia porque Frank Rijkaar, técnico holandês do Barcelona na época, não via razão para não deixar seu gênio voar solto.

De alguma forma, Ronaldinho perdeu a vontade.

Correção: é provável que a venda de Ronaldinho, o jogador mais caro da época, por uma soma anual estimada em 23 milhões de euros (em torno de R$ 60 milhões), por uma dúzia de patrocinadores, ajudou a acabar com sua alegria. Ele estava recebendo tanto, voando tão alto, que curiosamente perdeu justo aquilo que atraia os anunciantes.

Ele parou de incorporar o slogan da Nike, “Just do it”, ou “simplesmente faça-o”.

Ele achou que sair à noite seria mais divertido. Ronaldinho e o irmão, que também era seu agente, esqueceram-se da essência que era a raiz de sua liberdade em campo.

Quem entre nós poderia dizer que não perderia o foco com 23 milhões? O fracasso do chamado quarteto mágico do Brasil, Ronaldinho, Ronaldo, Kaká e Adriano em 2006 terminou com vândalos destruindo uma estátua de 7,5 metros de Ronaldinho de fibra de vidro em Chapecó, Brasil.

“Todo jogador brasileiro saiu daquela Copa arrasado”, disse Ronaldinho pouco depois. “Para mim, foi pior. Criei muitas expectativas porque eu estava em muito boa forma.”

Os jogadores e o técnico, Carlos Alberto Parreira, pagaram por aquele fracasso. Dunga, que tinha sido capitão e um raro homem duro na seleção brasileira, assumiu a missão de nova técnico com a missão de fazer os brasileiros trabalharem pelo privilégio da camisa.

Ronaldinho disse a Dunga que entendia que um jogador profissional tinha que “matar um leão” para provar que merecia um lugar na seleção. Ele teve seus momentos, mas não foram suficientes para persuadir Dunga a mantê-lo na seleção.

Contudo, há uma grande mudança na vida de Ronaldinho neste momento. Seu novo técnico no Milan é outro brasileiro, Leonardo.

Leonardo, que dividiu o triunfo da Copa do Mundo de 94 com Dunga, persuadiu Ronaldinho a não desistir de suas ambições. O técnico fala e o jogador joga como se a liberdade tivesse que ser conquistada.

Ambos usam a frase -“sentindo o amor das pessoas”- que inúmeros milionários do futebol nunca vão entender. O tempo dirá se Dunga sente a necessidade de amar Ronaldinho ou sente que pode ignorar seu renascimento.

Ronaldinho não é Ronaldo. Dunga não é Scolari. Mas o Brasil é o Brasil, e há uma Copa do Mundo chegando.

Fonte: UOL

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