Podemos construir uma escola que valorize a ancestralidade africana? Qual é a importância das mulheres negras como educadoras em nossas comunidades? Por que as periferias (onde reside a maior parte da população negra) apresentam uma enorme desigualdade no acesso à educação de qualidade?
Por Caio Dib, para Huffpost Brasil
Essas são algumas das perguntas que a educadora paulista Priscila Dias Carlos (foto acima) se faz todos os dias, provocando alunos em suas aulas de História no Jardim Horizonte Azul, na periferia de São Paulo.
Extrema zona sul da cidade, é uma das áreas com altos níveis de pobreza e maioria dos estudantes composta de negros. Com essas e outras perguntas, o objetivo principal de Priscila é “descolonizar” a mente de seus alunos, promovendo o pensamento crítico com relação ao racismo e as condições sociais que os cercam. Sua intenção é criar um ambiente de aprendizagem onde os alunos sintam-se orgulhosos de sua identidade.
Quase 8 mil quilômetros separam a realidade de Priscila da professora Nyanza Bandele, que também luta por uma educação de qualidade para seus alunos negros e latinos do estado da Filadélfia e também é coordenadora da ONG Reconstruction, que desenvolve formação principalmente para a juventude negra e população de ex-presidiários.
Em seus trabalhos, Nyanza ao longo dos anos incorporou a cultura negra em seu currículo para conectar seus alunos às suas origens.
Priscila e Nyanza têm mais em comum do que podemos imaginar. Por isso, a diretora Gabriela Watson Aurazo decidiu acompanhar as rotinas das duas educadoras para entender melhor como o processo de segregação em nível global se dá e também para conhecer as conexões entre as comunidades negras da diáspora africana no Brasil e nos Estados Unidos.
O resultado dessa jornada será o documentário Flores de Baobá, que busca financiamento coletivo pelo site Catarse.
Um filme para gerar discussão onde é mais preciso
Mais do que um registro documental, o projeto pretende trabalhar com questões como a descolonização da educação, a diáspora africana, as religiões com raízes africanas e a qualidade da educação a partir da exibição do filme em diversas comunidades. “Nosso plano é fazer um cronograma de locais da periferia interessados em exibir o filme e organizar exibições seguidas de debate onde parte da equipe e também as professoras/personagens estejam presentes”, contou a diretora.
“Além das exibições, iremos criar um guia para utilização do documentário em espaços educacionais. Dessa maneira, educadores, arte-educadores ou educadores sociais podem se apropriar do documentário e ele será utilizado dentro dessa perspectiva de transformação social através do audiovisual.”
Maior equipe que a gente respeita
Tão forte quanto o tema abordado, a equipe de produção faz jus à luta dessas educadoras.
Com predominância de mulheres negras, todos os profissionais são engajados nas questões sociais e/ou étnico-raciais.
“Estamos orgulhosos de ter uma equipe diversificada, especialmente apoiando a ideia de que as mulheres negras devem estar por trás da câmera. A sua doação para este projeto não só irá apoiar apenas um indivíduo, mas toda uma comunidade de cineastas e artistas comprometidas com a justiça social através da arte”, contou Joyce Prado, produtora executiva do documentário.