São Luís realiza hoje marcha contra a violência no Dia Nacional da Juventude

Fonte: Jornal Pequeno –

 

 

A Pastoral da Juventude de São Luís, ligada à Igreja Católica, coordena a realização, hoje, de uma marcha contra a violência dentro da programação do Dia Nacional da Juventude (DNJ), cujo tema é: “Contra o extermínio da juventude, na luta pela vida”. Na capital maranhense, o DNJ vai ser realizado durante todo o dia, na Paróquia São José Operário, na Área Itaqui-Bacanga, a partir das 8h, com debates em torno do tema, apresentações culturais dos grupos de jovens, e às 16h haverá a marcha contra a violência até a capela São José Operário do Bonfim.

 

De acordo com Zeni Pinheiro, da equipe que coordena a realização das atividades, neste ano está completando 25 anos que a Pastoral da Juventude realiza o Dia da Juventude, e que “segundo dados oficiais e de várias pesquisas a juventude é a parcela da população brasileira mais atingida pela violência, portanto, faz-se necessário uma profunda reflexão por parte da sociedade a fim de que se combata o verdadeiro extermínio de jovens que ora se consuma no Brasil”.

 

A seguir, a entrevista com Zeni Pinheiro.

 

JORNAL PEQUENO – Qual a avaliação das edições anteriores do Dia Nacional da Juventude?

ZENI PINHEIRO – Sempre foram dias em que a juventude celebra sua caminhada pastoral, refletindo temas que abordam o seu cotidiano como pautar as razões da vida da juventude, ligada à comunicação. É uma missão de todos nós, uma vez que Deus quer ouvir a voz da juventude ligada ao meio ambiente, e a gente quer valer nosso suor, a gente quer do bom e do melhor. A juventude sempre esteve animada e motivada para fazer acontecer nesses Dias Nacionais, e com entusiasmo foi às ruas cerca de mil e quinhentos jovens, era juventude nas ruas percorrendo o centro de São Luís, pois era tradição acontecer este dia na Escola dos Irmãos Maristas. A animação do encontro contagiava quem chegava, os jovens sentiam-se acolhidos para celebrar este dia, faziam ecoar suas vozes para a sociedade que os viam chegando ao local do encontro e principalmente nas marchas quando cantavam músicas que diziam o que queriam diante da exclusão que vivia; suas bandeiras eram levadas para colorir o ambiente e principalmente as bandeiras de lutas que traziam no coração. Com garra e organização, a Pastoral da Juventude de São Luís que durante vinte quatro anos celebrou este dia. E não podemos esquecer que este ano comemora 25 anos que realiza essa atividade.

 

JP – Qual a situação da juventude maranhense?

ZP – A juventude maranhense, em sua maioria, é empobrecida, por isso a nossa opção e da Igreja Católica é pelos jovens pobres e excluídos. É uma situação de exclusão, a juventude vive à margem da sociedade sem garantia de fato de seus direitos, por esse motivo a nossa missão é ir ao encontro dos jovens nas mais diversas realidades sociais e através da evangelização transformar em homem novo e mulher nova levando-os a serem protagonistas de sua história.

 

JP – Quais os problemas que mais afetam a juventude do Estado?

ZP – Faltam investimentos, principalmente, na educação e segurança e mais emprego para a nossa juventude.

 

JP – Todos os setores da sociedade estão envolvidos no evento e como está sendo a mobilização?

ZP – Não, apenas os grupos e movimentos juvenis inseridos nas comunidades e a Secretaria de Segurança estão envolvidos. Existem outros agentes que são convidados como: Conselhos, fóruns, ONGs. A mobilização está acontecendo através dos coordenadores diocesanos, das coordenações das foranias, coordenações paróquias e de comunidades, cartas convites às Igrejas, aos organismos sociais, panfletos de divulgação, entrevistas em rádios comunitárias, rádio Educadora e TV (TVE), carros de som e telefone.

 

JP – O que levou a realizar essa marcha contra a violência e como ela acontecerá?

ZP – O Dia Nacional da Juventude (DNJ) já não se encontra isoladamente, ele se liga à Campanha da Fraternidade (CF) que acontece durante a Quaresma e às atividades permanentes das PJs como a Semana da Cidadania, de 14 a 21 de abril, e Semana do Estudante, de 09 a 15 de agosto. O DNJ é parte de um todo maior que busca a dignidade jovem, ele celebra as lutas anuais dos/as jovens organizados, é a mobilização maior, concentrando multidões de jovens que buscam novas relações de vidas pautadas na justiça social, no poder popular, na legitimidade da diversidade, no protagonismo juvenil, na educação libertadora, na construção da paz. Todos os anos os temas escolhidos são correlacionados a CF.

 

JP – O assunto foi tema da Campanha da Fraternidade?

ZP – A reflexão sobre o fim da violência em nosso país foi tema da Campanha da Fraternidade deste ano que tem como tema: ‘FRATERNIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA’ e lema: ‘A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA- (Is. 32,17)’, e da Semana da Cidadania cujo tema é: ‘JUVENTUDE E CRIMINALIZAÇÃO’ e lema: ‘JUVENTUDE EM MARCHA CONTRA A VIOLENCIA’, e agora do Dia Nacional da Juventude, pois nós que também estamos inseridos neste contexto religioso e defendemos a vida, não podemos deixar de refletir um tema que abala toda a sociedade. O tema é: “Contra o extermínio da Juventude, na luta pela vida” e lema: ‘Juventude em marcha contra a violência’. Essa marcha será um gesto concreto de mostrar à sociedade que somos atingidos pela violência, olhar para a ameaça de vida, a discriminação, a violência explícita que atinge os/as jovens nas mais diversas realidades, queremos motivar as comunidades e grupos para sair em marcha contra a violência que aniquila as potencialidades juvenis e os criminaliza e extermina injustamente, através dela queremos reivindicar direitos garantidos por lei. Ela acontecerá no encerramento da atividade, onde sairemos da Igreja Matriz São José Operário em marcha até a Capela São José do Bonfim sendo e no trajeto iremos gritar palavras de ordens, com a juventude das comunidades e paróquias levando faixas e cartazes com frases e reivindicações e faremos também um gesto de solidariedade a tantos jovens que foram massacrados e violentados por falta de segurança.

 

JP – Não é muito forte falar em possibilidade de extermínio da juventude?

ZP – É muito forte, não queremos ver a juventude ser exterminada, por isso que estamos refletindo sobre essa insegurança. De acordo com o censo do IBGE do ano 2000, o Brasil tem 48milhões de habitantes entre 15 e 29 anos, dos quais 34 milhões têm entre 15 e 24 anos. É nessa faixa etária que se encontra a parte da população brasileira atingida pelos piores índices de desemprego, de evasão escolar, de falta de formação profissional, mortes por homicídio, envolvimento com drogas e com a criminalidade. Nada menos do que 60 dos presos do país têm entre 18 e 29 anos, segundo dados de 2007 do Ministério da Justiça, 51,4% dos jovens brasileiros não freqüentam a escola e 1,2% milhões são analfabetos. Entre os jovens negros e pardos, que somam 16,2 milhões da população juvenil, os dados são ainda mais graves: apenas 1% dos jovens universitários é negro. A exclusão social em nossa sociedade é algo concreto e que cresce a cada dia. Os dados nos mostram que os/as jovens são os que mais sofrem com essa situação. Mas não é somente nas favelas e zona rural que os quadros de violência são encontrados.

 

JP – A violência está se alastrando?

ZP – Já não é de hoje que cresce cada vez mais os casos de crimes provocados por jovens de classe “média/alta”. Se junta a isso a idéia equivocada de que os/as jovens estão cada vez mais cometendo crimes ou atos infracionais, e que a solução para isso seria a redução da maior idade penal, de 18 para 16 anos ou 14 anos de idade. No entanto, é constatado que o sistema penitenciário brasileiro está falido, e não cumpre com a função de reinserção social. Além disso, menos de 10% dos crimes tem os/as jovens como agentes. A redução da idade penal é mais uma proposta de violência e morte para a juventude. Quando falamos da violência entre jovens é importante lembrar que estamos falando de uma parte da juventude, uma parte que também é vítima. A juventude não é problema, ela é o grupo mais dinâmico na sociedade e potencial de transformação, da Igreja e da sociedade. Diante do quadro de violência e exclusão social que a juventude em nosso país sofre, se faz necessário pensar propostas concretas de políticas públicas para a população jovem brasileira.

 

JP – Quais as alternativas para ajudar o jovem a superar esses problemas?

ZP – Levantamentos dos grupos promotores de ações que combatam a violência contra jovens, ir às escolas e conversar com a comunidade escolar sobre os problemas e situações de violência nesse espaço, organizar reuniões com estes grupos com o objetivo de refletir a intervenção na realidade, baseada na Campanha Nacional Contra o Extermínio de Jovens proposta pelas Pastorais da Juventude, participar de Conselhos de Direitos, cartas a governantes ou termos de compromissos em defesa da vida e contra a redução de idade penal.

 

JP – Como tem sido o trabalho da Pastoral da Juventude?

ZP – “Conhecer a realidade dos/as jovens é condição prévia para evangelizá-los. Não podemos amar nem evangelizar a quem não se conhece” (cf.CNBB, Doc. 85,10). O momento de preparação para o DNJ é privilegiado para aprofundar a realidade que vivencia nossos/as jovens. De tantas maneiras a vida deles/as vem sendo ameaçadas, violentada, exterminada. Diante dessa realidade nosso trabalho tem sido através de formações, seminários, rodas de diálogos, celebrações reflexivas, reivindicações das políticas publicas e reuniões com setores sociais tudo isso para garantir uma maior conscientização dos direitos e garantir que sejam efetivadas ações que iram amenizar conflitos sociais.

 

JP – Qual o local de realização das atividades e convidados especiais?

ZP – Na abertura da Semana da Juventude, no dia 18 deste mês, as paróquias realizaram missas e momentos de vigílias, durante toda a semana as comunidades e paróquias estão refletindo sobre o tema e lema e no encerramento, dia 25, acontece a celebração da caminhada e reflexão com o gesto concreto da marcha contra a violência na área Itaqui Bacanga – Paróquia São José Operário – Vila Nova. Nossos convidados são todos os grupos de jovens inseridos nas comunidades de São Luís, movimentos e organismos que trabalham com jovens, a Secretaria de Segurança do Estado e toda a sociedade em geral.

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