Quase todo mundo sabe que o kuduro é um gênero musical nascido na África especialmente em Angola, com fortes referências de kizomba, semba, reggae. Mas, quem criou o ritmo? Essa resposta só tive acesso há pouco tempo. O criador é Lucenzo, pelo menos é o que parece.
Antes do cantor francês lançar o hit baladeiro, o kuduro se restringia a uma dança esquisita dos pretos, reservado aos concursos dos programas pops ou aos bairros periféricos. De repente, eis que surgiu Lucenzo! A salvação da lavoura, para dar visibilidade ao gênero musical.
Sem ter colocado os pés em Angola, lucenzo criou a música em parceria com o cantor inglês Big Ali, que bombou em toda Europa. Apesar do sucesso, foi na voz e versão do porto riquenho Don Omar que a música tomou forca, virou trilha do filme Velozes e Furiosos 5, teve portas abertas para o carnaval da Bahia e agora a musica Danzar Kuduro é trilha da novela Avenida Brasil, com uma abertura composta por uma maioria de negros fazendo uma alusão as avenidas e guetos do Brasil.
O interessante é que o gato pop fez um hit de kuduro em um ritmo não africano. A música é um bit de kuduro em ritmo de reggaeton, na voz de um homem branco pseudo latino, que em momento algum faz algum tipo de alusão a origem do ritmo. Nem mesmo na versão latina de Don Omar isso ocorreu, Danzar Kururo é apenas uma versão no idioma espanhol.
“O Dom Osmar apresenta o kuduro como sendo um trabalho dele (…) ele não fala de Angola, nem de nada dessas coisas. Quer dizer o nosso ritmo, ele ouviu em algum lugar, pesquisou, pegou e levou para lá.” Esse foi o desabafo do cantor angolano Dog Murras em entrevista ao programa angolano Hora Quente, após ser questionado pelo apresentador Pedro N’zagi, sobre o mercado da música para os angolanos.
Mais à frente, o cantor citou o grupo Fantasmão, na época liderado por Edicity, segundo ele, o Brasil se apropriou do kuduro entendendo que o produto vem da áfrica e o valoriza ainda mais por isso.
O exemplo da afirmativa de Dog Murras é que na regravação do cantor Pop Latino, parte do clipe acontece em Luanda, durante o vídeo há uma dançarina de kuduro e no final aparece a bandeira de Angola (não deixa de ser mais um clipe lotado de bundas remexendo).
O sucesso do hit nos remete a um debate antigo: Porque a música negra toma força quando é produzida por brancos? O kuduro está na pista para negócio faz tempo, mas bastou um branco europeu cantar e a música é a bola da vez (só perde para Muchel telo). Temos como exemplo a finada Amy e a bem viva Adele consideradas rainhas do soul e do jazz, quando na verdade a banda base de Amy é da cantora de jazz Sharon Jones, já Adele ganhou vários prêmios com os dois álbuns intitulados por ela de tributo a música negra.
Enquanto a obra do cantor não caí no ostracismo e vai parar no cemitério dos hits temporários, vamos ouvir essa música enquanto durar a novela, não esquecendo de agradecer a Lucenzo pela criação e difusão do kuduro. Valeu Lu!
Fonte: Correio Nago