O seminário foi encerrado no melhor estilo afro-brasileiro, com o show, o balanço e o ritmo pulsante do músico Dão e a Caravanablack.
Por: Samuelita Santana
A criação de redes sociais direcionadas a empreendedores da cultura negra e outras propostas inovadoras lançadas durante o Seminário Internacional Somos Africanos? Novas estratégias para a ascendência africana no Brasil e na América Latina, serão editadas num livro direcionado às esferas de governo e organizações que atuam na promoção da igualdade racial.
A publicação vai indicar a renovação das políticas públicas com base em uma nova agenda política e em um novo pensar afrodescendente. Durante três dias, o seminário – que aconteceu de 04 a 06 na Biblioteca Pública do Estado – promoveu debates sobre desigualdade racial, herança histórica do racismo e ações de valorização e fortalecimento das relações entre a América Latina e o continente africano. O evento, que marcou o início das comemorações no Brasil, dos 50 anos da União Africana, foi promovido pelo Governo Federal, através da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Governo do Estado da Bahia e do Centro de Estudos Mário Gusmão- CEMAG.
O diretor da CEMAG e coordenador do evento, Zulu Araújo, mostrou-se surpreendido com a positiva participação do público durante os debates, tanto pelo número de pessoas como pela qualidade das propostas encaminhadas. ” Concluímos com uma avaliação bastante positiva, seja pelo acolhimento dos participantes, seja pela presença forte da juventude ou pelas propostas inovadoras, como a da criação de redes sociais para empreendedores da cultura negra; a multiplicação do evento com este formato pelo resto do país e o reconhecimento unânime de que os modelos organizacionais existentes hoje estão esgotados”, reforçou.
Arte e resistência – As expressões culturais como o teatro, a dança, artes visuais, a música afro-brasileiros e os desafios de serem absorvidas pelo mercado e pela mídia, também destacaram-se nos debates promovidos pelo seminário. Para liderar os grupos de trabalho dessa temática, foram convidados o ator e artista plástico, Antonio Pompêo, a diretora teatral Fernanda Júlia, o professor da UFBA e pesquisador do cinema africano, Mamba e o rapper Gog. Para Fernanda Júlia, o mercado não prevê a legitimação da cultura afrodescendente.
“Não estamos representados no cinema, na TV, e no teatro. Mesmo com a existência de vários grupos que apresentam referências da nossa religiosidade, por exemplo, esbarramos em questões que vão desde à escolha do tema ao financiamento. Precisamos de representação tanto em quantidade, quanto em qualidade”, ponderou. Cantor de Rap, com 30 anos de carreira e criador do primeiro selo de Hip Hop do país, Gog descreve o cenário da música negra, hoje, como “criativa, mas com pouca fruição”.
“A música negra tem muita capacidade de criação, mas na negociação, passamos a titularidade, e isso fez com que o mercado fonográfico permanecesse na mão dos outros. Vivemos de inquilino no mundo da música. Temos o poder criativo, mas não estamos empoderados”, explica. “A resistência é o pilar da música afrodescendente, mas para que seja disseminada, atuante, temos que juntar causas e canções”, poetizou.
O seminário reuniu nomes como o embaixador Manuel Lubisse, representante da UA, o secretário de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Elias Sampaio, a procuradora geral da Fundação Cultural Palmares, Dora Lúcia de Lima Bertúlio, o jornalista e diretor executivo da Revista Raça, Mauricio Pestana, além de artistas e intelectuais como o professor Mário Theodoro, doutor em Economia pela Universidade de Paris e o antropólogo Júlio Tavares. O seminário foi encerrado no melhor estilo afro-brasileiro, com o show, o balanço e o ritmo pulsante do músico Dão e a Caravanablack.
Fonte: Bahiaja