Senado aprova projeto que adota cota sócio-racial

Escolas privadas e Universidades reagem à decisão. “Essa atitude demonstra a resistência de parcela das elites nacionais que vem, sistematicamente, combatendo as cotas nas universidades. E isso ocorre com a colaboração explicita dos veículos de comunicação de massa”, afirma Sueli Carneiro, coordenadora executiva do Geledés: Instituto da Mulher Negra .

Arquivo Inesc
Na última terça-feira (7/8) o Senado aprovou o projeto que adota o critério sócio-racial, matéria que versa sobre a reserva de 50% das vagas nas universidades federais para estudantes oriundos das escolas públicas. O texto também estabelece critérios étnico-raciais e de renda para negros e indígenas. O projeto tramitou durante treze anos no legislativo e agora será encaminhado para sanção da Presidenta da República, Dilma Rousseff.

Segundo o projeto aprovado, as vagas serão reservadas de acordo com a presença negra e indígena na população de cada Estado da Federação, tomando em conta o Censo do IBGE 2010 (atualmente 50,7% da população brasileira é negra e indígena). O projeto também aborda que pelo menos metade das vagas reservadas (25%), deverá ser destinada a estudantes de escolas públicas com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita – menos de mil reais em valores atuais.

“Enfim, depois de tantos anos, o Congresso se posiciona favoravelmente ao projeto de cotas sócio-raciais. Acredito que o legislativo agiu em conformidade com a decisão do STF. Mesmo que tardiamente, a decisão veio reforçar a disposição que o Estado Brasileiro demonstra, neste momento, de enfrentamento das desigualdades raciais pela adoção das ações afirmativas, entre elas as cotas. Espera-se que as outras instituições acompanhem essa nova disposição, sobretudo, no âmbito do mercado de trabalho”, afirma Sueli Carneiro, doutora em educação pela Universidade de São Paulo e coordenadora executiva do Geledés: Instituto da Mulher Negra.

Em matéria publicada pela Agência Senado, o presidente do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Mário Theodoro, reconheceu que as cotas são um tema polêmico, mas observou que o projeto pode abrir oportunidades para outros setores da sociedade historicamente excluídos.

Sobre as controvérsias, nesta quinta-feira (9/8) matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo aborda a reação contrária ao projeto da Federação Nacional das Escolas Particulares e da Associação dos Reitores das Universidades Federais. (Veja matéria completa)

Para Sueli, as cotas sempre foram objeto de uma reação conservadora e inusitada. “Essa atitude explicita a resistência de parcela das elites nacionais que vem, sistematicamente, combatendo as cotas nas universidades. E isso ocorre com a colaboração explicita dos veículos de comunicação de massa. Apesar de toda a utilização massiva das mídias nacionais para combater a iniciativa das cotas, eles perderam e agora vão para a última batalha tentando reverter isso no plano judicial. Lamentável, mas acredito que os segmentos mais progressistas da sociedade estão conseguindo avançar nesse assunto”.

Sobre a atuação da imprensa em relação ao racismo, a Andi: Comunicação e Direitos desenvolve uma pesquisa, que está em fase de finalização e em breve divulgará os resultados. Suzana Varjão, gerente do Núcleo de Qualificação da entidade, ressaltou que a aprovação do projeto é de extrema relevância. “Mecanismos como esse garantem a efetividade do esforço em prol da promoção da igualdade racial. A gente tem conhecimento que a grande maioria de estudantes das escolas públicas é negra. Esse é um avanço do legislativo que vai propiciar a ação efetiva do excutivo”.

Saiba mais sobre o projeto

Segundo o projeto, as vagas serão reservadas de acordo com a presença negra e indígena na população de cada Estado da Federação, tendo como referência os dados do Censo do IBGE 2010 (atualmento 50,7% da população brasileira é negra e indígena). A matéria aprovada também aborda que pelo menos metade das vagas reservadas (25%), deverá ser destinada a estudantes de escolas públicas com renda igual ou inferior a um salário mínio e meio per capita – menos de mil reais em valores atuais.

Fonte: Inesc

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...