Sérgio Martins – O corpo deixado de lado e a solidão diante da webcam

A longa trajetória de desenvolvimento da humanidade é marcada pelos surgimento de recursos artificiais, que facilitam a vida das pessoas na eterna luta contra a natureza pela sobrevivência e preservação da espécie. A descoberta do fogo, a invenção da roda, a máquina a vapor, luz elétrica entre outras grandes inventos são responsáveis pela mudança de costumes, pensamentos e comportamentos.

Mas sem dúvidas, a revolução tecnológica pela qual passamos a largos passos, tem inovado rotinas e comportamentos dando lugar á um novo ser o indivíduo digital.

Em algumas doutrinas esotericas o corpo é entendido como veiculo de expressão da alma sem o qual ela não poderia manifestar-se no plano da realidade materializada. Ainda, que compartilhe da idéia de inseparabilidade de corpo e alma, podemos afirmar que o individuo digital, conspira contra a presença dos corpos na relação diária, fazendo emergir uma relação supra-corpo mediada pela máquina, cujo o instrumento de comunicação são os e-mail, msn, scraps, twiteer , skipe, etc, onde o império da imagem se opõe aos demais sentidos.

O espaço cibernético, um universo incontestavelmente maravilhoso, que abarca nossas virtudes e concupiscência, onde o indivíduo digital, poder ter a representação que quiser, circulando livremente entre si, sob os princípios e desejos de cada um. O espaço cibernético antagoniza alguns conceitos, até hoje válidos de limites de comportamentos no espaço público e privado.

Pelo mundo a fora o individuo digital fica diante de uma webcam, na maior parte das vezes encenando relações intimas ou simplesmente olhando através da câmera em busca de um outro olhar de cumplicidade. Indagamos, se o recurso da webcam previne o medo do encontro frustrante ou será que vamos desistir das relações interpessoais diretas.

É inegável o papel da internet como instrumento de comunicação entre as pessoas, dando a sensação de sincronicidade, uma vez, que tomamos conhecimentos dos fatos de forma quase instantânea. Mas seu uso como instrumento de mediação de relações humanas afetivas ou sexual abre um debate bastante interessante sobre as consequências deste fenômeno.

Um conjunto de meta-relações sem a presença física do outro, propõe um novo contexto, onde o real corpo é deixado de lado, por uma opção pela imagem. Um contato entre expectadores miméticos, parecido com o cinema mudo do início do século. Ora, uma das grandes qualidades da experiência humana é o contato com outro, a construção dialogal que ocorre entre imaginários e percepções da vida, que nos permite avaliar nossos próprios caminhos na vida.

Estamos falando de toda uma geração que não conhecerá outra linguagem de comunicação ao não ser o modelo digital. Onde já se vê experiências de descolamento da realidade de diversos jovens de várias camadas sociais, por conta do uso abusivo de jogos e outros mecanismos digitais. Jovens que possuem um grande acúmulo de informações porém prescinde de uma visão crítica dos fenômenos sociais.

A busca pelo prazer e comodidade é simétrica á tentativa de afastar tudo aquilo que traz temor e medo ao individuo. Somos angustiados pela necessidade de segurança e certeza em nossas relações afetivas, profissionais, até mesmo de amizade. Porém, somos sabedores de que é a experiência dos encontros e desencontros que nos amadurece e proporciona a tal de consciência crítica, que nada mas é, do que a capacidade de analisar os fatos e discursos, nos retirando do centro de todas as coisas e percebendo o outro como co-autor da realidade.

O distanciamento do indivíduo digital da experiência relacional direta, pode produzir um ser afastado da realidade, um mero expectador de eventos, preso em suas amarguras e medos. Com certeza diante de tantos problemas que passamos no planeta terra, poderíamos no mínimo preservar o calor e a ternura dos encontros diretos entre as pessoas.

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