Sérgio Martins
Em 9 de novembro de 1989, com o início da queda do muro de Berlim, os amantes do livre mercado declararam o fim do socialismo como um modelo de possível de gestão política e de recursos produzidos pelos trabalhado humano em favor do conjunto da sociedade. A única certeza que se tinha, até então, era a vitória dos princípios liberais, onde os ricos deveriam ter o mínimo de intervenção em suas propriedades, incluindo uma menor taxação de suas riquezas, pois detinham capital para movimentar a econômica através dos investimentos em projetos de desenvolvimentos, que direta e indiretamente beneficiariam a sociedade.
A Imprensa mundial noticiou que o milionário americano Warren Buffett reclamou de um Congresso muito amigo dos bilionários, requerendo maiores taxações da riqueza em seu país. Depois, Liliane Bettencourt, a mulher mais rica de França, assinou uma “carta, com 15 outros bilionários, pedindo para fazer uma contribuição especial” para o Tesouro para ajudar a debelar a crise econômica do seu país. O próprio dono da Ferrari disse que, como é rico, está absolutamente de acordo que lhe cobrem mais dinheiro.
Assistimos na França e a Espanha o debate sobre a introdução de um imposto especial para os mais ricos. Um grupo de 50 alemães ricos juntou-se ao movimento do “cobrem-me impostos pesados” renovando o seu pedido a Angela Merkel para que “impeça que o fosso entre ricos e pobres se torne ainda maior”.
Se por um lado, a globalização proporcionou aos investidores a oportunidade de aplicarem seus recursos financeiros nos mercados emergentes, em busca de altos e rápidos ganhos, sem qualquer responsabilidade social, em outra direção, o avanço tecnológico, permitiu a produção de riquezas em excesso, por parte dos trabalhadores, através de um sistema de produção altamente racionalizado e controlado.
Neste cenário, os ricos com a parcimônia dos Estados, concentraram, ainda mais recursos patrimoniais e financeiros. Em posição oposta, os Estados Nacionais, afundaram em suas dívidas públicas. Ora, qual será a relação entre os multimilionários e seus respectivos Estados Nacionais, ou ainda, qual a implicação de um calote dos Estados para os grandes investidores?
Seria muito inocente de nossa parte, pessoas comuns, acreditarmos em um espírito de natal, que tocou o coração dos grandes capitalistas planetários. Salvar a credibilidade dos Estados Nacionais e suas finanças, parece ser muito mais preocupante, do que enfrentar um suposto levante de pobres pelos seus direitos e desejos de acesso ás benesses do capitalismo.
O Estado equilibrado em suas funções de administração das contradições do capitalismo cumpre um papel fundamental no processo de acumulação de riqueza, pois garante a legalidade do próprio antagonismo do sistema. A regulação do trabalho, os baixos salários e a apropriação da riqueza, produzida conjuntamente, através de cobranças desiguais de impostos, prescindem de um Estado saneado cumprindo suas funções sociais.
Então, podemos supor que os ricos, agora “exigem” o aumento da taxação de suas riquezas, não para proporcionar a divisão da riqueza social, mas somente para salvar os Estados em crise, para que estes continuem no seu papel de aprisionar o ser humano em uma cadeia injusta e ultrapassada de produção de riqueza para o uso e gozo de uma minoria.
Aqui no Brasil, os multimilionários que passaram de 18 para 30, em 2010, segundo a revista forbes, estão em completo silêncio, talvez porque o Estado Nacional, com governo de centro esquerda esteja administrando bem as contradições entre muito ricos e muitos pobres, e estes últimos, ainda continuam pacificamente morrendo nos hospitais públicos.
O congresso nacional, embalado pelo clamor dos ricos de além mar, tem a oportunidade de abrir o debate com a sociedade sobre a taxação da grandes riquezas no país, ao invés de simplesmente repassarem a conta da falência do sistema de saúde para classe média, já tão sacrificada nos últimos anos.